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chr39Sou favorável que o isolamento social continuechr39

25/04/2020
chr39Sou favorável que o isolamento social continuechr39 | Jornal da Orla

O infectologista Marcos Caseiro fala que estamos em uma fase intermediária da curva da pandemia do Covid-19, que continua subindo. Ainda é preciso muito cuidado e medidas preventivas! 
 

Há um mês em isolamento social é natural que as pessoas estejam muito fragilizadas, inclusive, com as perspectivas econômicas. Muita gente ainda continua em dúvida com relação ao pico da pandemia. Como está essa situação, doutor?
Marcos Caseiro- Para que as pessoas entendam um pouco mais sobre o que está acontecendo, vamos dar o exemplo de Hubei, na China, onde começou a pandemia e hoje há menos de 5 mil mortes. Aqui no Brasil já temos quase isso. Hubei é um estado maior do que SP e fechou por 11 semanas para que eles conseguissem esse número de mortos. Já os Estados Unidos têm quase 40 mil mortes, a Itália 24 mil e a Espanha 21 mil. Esses últimos países citados optaram inicialmente por não fechar. Podemos comparar os números altos com Portugal, que tem cerca de 800 mortos e a Coreia do Sul, com quase 300. Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) fala que temos que fechar, não se trata de uma decisão do prefeito, do governador ou do m& eacute;dico. E, sim, de um dos órgãos mais competentes do mundo. Se não tivéssemos feito o que fizemos, nós estaríamos tendo muito mais casos, com muito mais internações e, consequentemente, falta de leitos hospitalares. Fechamos e, mesmo assim, os casos estão aparecendo, mas em um ritmo que está dando para que os pacientes estejam sendo atendidos adequadamente. Não dá para pagar para ver o que teria acontecido sem o confinamento. Eu, particularmente, sou favorável que a gente continue em isolamento social. E quando for o momento de abrir, que isso seja feito com rigor e cuidado, até porque logo chegaremos no inverno. 

Quem já teve a doença fica imunizado ou pode se recontaminar, já que o vírus pode ser mutável?
Marcos Caseiro- Sim, quem já teve covid-19 cria imunidade. Se não ocorresse isso, essa doença não teria fim. O paciente justamente se cura porque desenvolve anticorpos. Mas, como o vírus é mutável, ele pode se transformar em uma nova gripe. Ainda não temos a resposta de quanto tempo a pessoa vai ficar imune. O vírus influenza, por exemplo, sofre pequenas mutações todo ano, por isso existe uma vacina anual. Temos que nos conscientizar que vamos ter que viver de forma diferente neste ano. Nós só vamos resolver o problema do novo coronavírus e ter uma abertura plena quando tivermos uma vacina que garanta principalmente a diminuição da mortalidade.

No Brasil, o vírus tem se comportado de maneira diferente, inclusive, tendo levado pessoas mais jovens a um estado grave. A gente não sabe como esse vírus se comporta em cada organismo…
Marcos Caseiro- Exatamente. Mas é importante a gente saber que o vírus é capaz de matar em qualquer faixa etária. O que acontece é que a mortalidade até os 50 anos gira em torno de 0,3%. Entre 50 e 60 já aumenta para 1,3%. A partir dos 60, vai para 11% e, a partir dos 70, vai pra 13%. Pessoas com mais de 80 anos contam com 18% de chance de ir à óbito. Mas uma coisa é certa: cerca de 80% dos óbitos são de pessoas que possuem vulnerabilidade, ou seja, estão acima do peso (IMC aumentado) ou sofrem com hipertensão, diabetes e cardiopatias. Precisamos de um pouco mais de tempo para avaliar bem isso. Estamos aprendendo a lidar com a covid-19 porque trata-se de uma doença nova. De qualquer maneira, é importante enfatizar que n&oacut e;s não estamos em uma situação tranquila. Muita gente já morreu aqui no Brasil.

É preciso manter o distanciamento social, adquirir a cultura da máscara e pensar sempre que o vírus pode estar vivo em qualquer superfície…
Marcos Caseiro- Sim, é necessário adquirir o hábito sistemático de usar máscara! Mesmo dois dias antes de ter os sintomas, a pessoa já está transmitindo o vírus. É preciso usar a máscara tanto para não pegar a doença quanto para não transmitir. A máscara também evita que a gente leve as mãos à boca ou ao nariz, já que a gente faz isso inúmeras vezes por dia sem perceber. Mas a máscara sozinha não resolve o problema e, sim, uma série de ações que estão sendo constantemente divulgadas como lavar as mãos, evitar aglomerações e manter o isolamento social. O que mais me desespera é ver um grupo de pessoas, inclusive médicos, d ando as costas para esse vírus. Isso não é invenção da Rede Globo! É preciso que as pessoas busquem a notícia e a informação. Eu normalmente tenho uma visão tranquilizadora dos cenários, mas, desta vez, digo e repito que nós não estamos na fase final da epidemia. Vivemos a fase intermediária e isso vai piorar muito ainda. Se as pessoas acharem que é preciso flexibilizar vão viver um desastre. Nós não teremos local para enterrar as pessoas. Isso não é ser pessimista. Basta observar os dados. 

Com relação aos tratamentos, o que realmente está sendo eficaz para tratar o novo coronavírus? 
Marcos Caseiro- Isso gera uma enorme discussão de fato. Na verdade, não há um medicamento que trate de forma eficaz esse vírus. Eu não prescrevo, já que não existe nenhum estudo baseado em evidências que comprove isso. Só o tempo e as pesquisas vão determinar qual o melhor momento para tomar cloroquina, em qual idade, em quais condições… Essas drogas têm efeitos adversos, assim como interações medicamentosas, ou seja, reagem com outros medicamentos. É preciso acompanhamento médico. 

 

A prefeitura de Santos criou uma plataforma de combate ao Covid-19…
Marcos Caseiro- Sim, o secretário da saúde de Santos chamou todos os infectologistas da Cidade para discutir o caso. Ele tem ouvido todos os especialistas, que podem ajudar e dar uma opinião científica. O site da prefeitura revela, inclusive, quantos leitos estão disponíveis, onde nós estamos e onde podemos chegar. Isso é democracia! Vamos, inclusive, fazer um estudo de soroprevalência na Baixada Santista com 2.500 amostras para saber qual  porcentagem da população já teve contato com o vírus. Isso tudo servirá como base para que a gente saia do isolamento com responsabilidade.