Hoje em dia, o que levaria uma corrida ao pronto-socorro, muitas vezes, significa apenas uma troca de mensagens pelo whatsapp com o médico da sua confiança. Mas é preciso muita calma nessa hora. Pacientes e até alguns médicos podem estar passando dos limites éticos e legais, colocando, muitas vezes, vidas em risco, em nome da comodidade. Sanar uma dúvida sobre a medicação ou mesmo enviar fotos de uma mancha esquisita que apareceu nas costas do bebê, pode? Tudo vai depender do bom senso e do nível de relação e confiança que você tem com seu médico.
Risco de erro no diagnóstico
Desde o início dos primeiros aplicativos de trocas de mensagens, o médico pediatra e também advogado Claudio Barsanti, de São Paulo, é avesso ao seu uso, especialmente para troca de mensagens com pacientes. “Já na primeira consulta compartilho meu telefone, mas aviso à família que não trocaremos informações por mensagem de texto. Esse tipo de prática pode levar, dentre inúmeros problemas e confusões, a um erro no diagnóstico”, explica.
De acordo com o Código de Ética Médica, em seu artigo 37, “é vedado ao médico prescrever tratamento e outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente depois de cessado o impedimento, assim como consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de comunicação de massa”.
Outro ponto: “Não há garantia de sigilo nestas trocas de mensagens, que podem ser editadas e apagadas livremente, bem como lidas fora do contexto, especialmente quando não se vincula a resposta à pergunta. Há, ainda, o risco de enviarmos uma mensagem ao destinatário errado, criando uma confusão ainda maior”.
Esta medida visa evitar que o paciente corra riscos ou mesmo que um erro no diagnóstico agrave seu estado de saúde ou prolongue o tratamento desnecessariamente. Este tipo de confusão pode ser perigosa e os riscos não valem a conveniência.
“Não é impossível que o corretor automático altere o nome de um medicamento sem que a gente perceba ou que um erro de digitação envie uma dosagem muito superior a indicada. Problemas na resolução de uma imagem ou vídeo também podem levar a erros de diagnóstico, que seriam evitados em uma consulta presencial”, avalia o especialista.
Uso de aplicativo vai parar na Justiça
Ao longo dos anos, é crescente o aumento de sindicâncias e de processos contra médicos relacionados à utilização de whatsapp e outros aplicativos.
Os médicos devem ter especial atenção às informações que transmitem a seus pacientes por meio de aplicativos ou redes sociais. Textos, fotos e vídeos compartilhados por estes dispositivos já são admitidos como provas judiciais, sem a necessidade de autorização da outra parte.
Barsanti complementa: “É importante destacar que, a partir do momento em que o médico, por exemplo, receita um medicamento ao paciente por meio de mensagem, sem atendimento presencial, está ferindo um preceito que, atualmente, está em vigência no Código de Ética Médica, o que, além dos riscos envolvidos, poderá ser utilizado como prova em propostas judiciais criminais e cíveis, bem como em uma sanção ético-administrativa, quando de uma demanda contrária ao médico”. Fique atento e não abuse da confiança do seu médico!