A preocupação com a saúde do planeta é um tema recorrente em todos os setores e precisa ser levada à sério. Todos os dias há notícias sobre a crise de poluição plástica que assola nossos oceanos e cidades. Hoje, existem inúmeras iniciativas que tem como objetivo conscientizar a população sobre o problema e incentivá-la na mudança de hábitos. Isso porque, grande parte dos resíduos encontrados em limpezas de praias e em rios são de plásticos de uso único como garrafas pet, copos descartáveis, canudos, sacolas, entre outros itens utilizados em demasia na sociedade.
Um desses projetos é o "Desafio Zero Descartável" realizado no mês de Julho, este, mundialmente conhecido como "Julho sem Plástico". O desafio é organizado pela startup Beegreen Sustentabilidade Urbana e voltado para a população em geral, e, nesta 2ª edição, participaram pessoas físicas, escolas, empresas e instituições, atingindo mais de 400 mil pessoas, e o que mais chamou a atenção foram os dados coletados com os participantes após o desafio, publicados recentemente em seu relatório de impacto.
A pesquisa foi realizada pela própria startup e nela foram avaliados quesitos como tempo de participação, níveis de dificuldade e quantos plásticos descartáveis os participantes deixaram de consumir em seu cotidiano. Mais de 80% dos entrevistados não conseguiram cumprir o desafio, e alegaram dificuldades em zerar a produção de lixo. Outro dado interessante, é que 75% dos participantes precisou se explicar para conseguir fazer compras sem a utilização de plásticos descartáveis.
O grande problema aqui, segundo a bióloga e sócia-proprietária da empresa, Jessica Pertile, está na falta de consciência da população sobre o assunto. "Precisamos repensar nossos hábitos quanto a geração de lixo plástico descartável. É cultural sermos bombardeados de descartáveis em nossa vida cotidiana e grande parte das vezes, nem é perguntado para a pessoa se ela precisa da sacola ou do canudo. Precisamos chamar a atenção quanto a importância reavaliar este comportamento e criar novas alternativas para um consumo mais consciente", comenta.
Informações do mesmo relatório de impacto mostram, ainda, que os setores de alimentação e bebidas na rua (52%) e higiene pessoal (40%) foram os que trouxeram maior dificuldades na hora de cumprir o desafio, por não oferecerem outras opções. "São áreas que precisam não só de uma maior atenção e conscientização, mas também de alternativas mais sustentáveis para oferecer ao consumidor. Essas dificuldades acabam fazendo com que as pessoas desistam de tentar mudar de hábitos", comenta a engenheira de produção e sócia-proprietária da empresa, Patricya Soares Bezerra.
Apesar dos obstáculos enfrentados, tentar ajudar o planeta também trouxe bons resultados. Todos os participantes afirmaram ter adquirido uma maior consciência sobre o assunto, mudando sua percepção sobre a geração de seu próprio lixo. Quase a metade deles (45%) pretendem continuar nessa jornada de redução, e mais de 72% não só mudaram os próprios hábitos, como confirmaram influenciar essas mudanças ao seu redor, colaborando com ações em sua família e local de trabalho. Para quem tiver interesse no tema, a Beegreen disponibiliza, em seu site e redes sociais, conteúdos exclusivos e gratuitos sobre como evitar o plástico descartável em casa, na rua, em escolas e empresas, seja ao consumir alimentos e bebidas na rua, fazer compras no mercado, programar eventos, realizar a limpeza da casa e o cuidado do seu pet, entre outras atividades.
O lixo no Brasil e a mudança de hábitos
De acordo com o Ministério do Meio ambiente (MMA), os brasileiros geram por ano mais de 70 milhões de toneladas de resíduos sólidos, sendo 19 milhões de recicláveis e, destes resíduos, 45% são plásticos. Para piorar, a média de reciclagem nas cidades brasileiras – que é de responsabilidade das prefeituras – é de apenas 2% do volume global que deveria ser reciclado, ou seja, 98% ainda é perdido, indo parar em bueiros, rios, lagos, mares, oceanos, lixões e aterros.
A crise plástica tem feito crescer a curiosidade e a busca sobre como mudar o estilo de vida. Os resíduos plásticos gerados estão ligados, principalmente, ao consumo de alimentos e bebidas e ao consumo de bens duráveis. Um bom exemplo disso, são as famosas sacolas plásticas. Quando vamos a um estabelecimento qualquer, automaticamente somos condicionados a colocar os produtos que vamos levar dentro de uma. Isso acontece devido a própria cultura estabelecida e, também, ao hábito e as crenças das próprias pessoas. Para se mudar uma cultura, é necessário mudar esses hábitos e crenças. E o primeiro passo é estranhar a realidade a nossa volta, questionando se ela faz sentido. Mudanças nem sempre são fáceis, e precisamos de um tempo para nos acostumar a isso. A boa notícia é que, hoje, há cada vez mais gente disposta a levar uma vida mais sustentável.
Quanto maior a consciência, maior a redução
Quando se enxerga o problema e tem consciência sobre ele, conseguimos mudar nossos hábitos, e é muito importante que, uma vez iniciada essa jornada, ela não pare. Como exemplo, temos os movimentos civis de proibição dos canudinhos plásticos no Brasil. Essa onda acabou por levantar a pauta "será que o canudinho é o problema?", ou são os hábitos de consumo como um todo?
O fato é que os canudinhos descartáveis são apenas a ponta do iceberg, mas, com esse debate, novos mercados e mentalidades se abriram para uma nova economia, de consumo consciente, que cria novas alternativas para solucionar problemas, como os itens reutilizáveis. Ao trocar os descartáveis por opções duráveis, ainda se tem hábito do consumo, mas desta vez, sem fazer parte do ciclo vicioso "extração – consumo – descarte" desenfreado, tentando assim, fazer a parte e reduzir a produção de lixo.
Foto: Divulgação