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John Pizzarelli encontra Paul McCartney

24/08/2019
John Pizzarelli encontra Paul McCartney | Jornal da Orla

O guitarrista e cantor americano John Pizzarelli lançou em 2015 pelo selo Concord Records, um CD com 13 faixas, exclusivamente com composições do repertório do genial Paul McCartney. 

 

O mais curioso disso tudo é que o projeto do disco nasceu de uma correspondência vinda de Londres e recebida por John Pizzarelli em Nova Iorque. 

 

O remetente, simplesmente Sir Paul McCartney, no texto da carta lhe perguntava se ele não gostaria de gravar um disco com algumas de suas músicas de sua fase posterior aos Beatles. 

 

Na mesma carta, McCartney batizou o nome do disco, “Midnight McCartney” e sugeriu que a capa do disco fosse uma foto de Pizzarelli caminhando pelas ruas de Nova Iorque.

 

Dias depois, John recebeu pessoalmente em sua casa um emissário que trabalhava para Paul McCartney nos Estados Unidos, com o pedido formal para a gravação do disco e a sugestão de algumas músicas. Ou seja, ele havia pensado simplesmente em tudo e John Pizzarelli não poderia dizer não.

 

Paul McCartney já havia trabalhado com John Pizzarelli em 2012 nas gravações do CD “Kisses On The Botton”, com canções clássicas cantadas pelo ex-Beatle quando criança, gravadas de forma intimista e com uma levada jazzística surpreendente.

 

Este projeto deu tão certo que ganhou uma versão maravilhosa em DVD, intitulado “Live Kisses”, onde McCartney ao lado de um time de feras, incluindo John Pizzarelli e Diana Krall, gravaram ao vivo as principais músicas do aclamado “Kisses On The Bottom”, no mítico Estádio A do Capitol Studios, em Hollywood.

 

Merecem destaque também as participações do seu talentoso irmão Martin Pizzarelli no contrabaixo acústico, Duduka da Fonseca na bateria, o pianista Hélio Alves, seu Pai e lendário guitarrista Bucky Pizzarelli e a orquestração afinadíssima de Don Sebesky.

 

Na parte musical, algumas regravações incríveis com a levada de Bossa Nova e os temas “My Love”, “Coming Up” que contou com a participação muito especial do cantor Michael McDonald, “No More Lonely Nights”, “My Valentine” e “Some People Never Know”. Simplesmente incríveis!

 

 

Leny Andrade & Roni Ben-Hur – “Alegria de Viver”

A linguagem da música é universal e por esta razão possibilitou reunir pela primeira vez, uma cantora brasileira e um guitarrista israelense radicado desde 1985 nos Estados Unidos, para a gravação de um CD primoroso com 14 faixas lançado no exterior pelo selo Motema, todas elas cantadas em português, exceto uma cantada em espanhol.

 

Ganhei este raro exemplar do meu querido amigo músico e compositor Fred Falcão, que teve a honra de ouvir uma de suas composições, “Samba Iluminado”, numa parceria com o também querido Marcello Silva, abrindo de forma iluminada o CD da dupla.

 

Leny Andrade é uma das minhas cantoras preferidas e está cada vez melhor e muito produtiva. Já Roni Ben-Hur é um nome novo para mim e descobrir seus trabalhos jazzísticos já lançados no exterior, foi uma agradável surpresa.

 

Uma vez li uma definição sobre Leny, que dizia: “Existem artistas estrelas e estrelas artistas. Leny Andrade é uma constelação de emoções”. Definição perfeita para esta cantora excepcional que tem a honra e o privilégio de levar a nossa música cantada em português para todos os cantos do planeta.

 

Um detalhe muito importante é que Leny teve aulas de piano clássico por 12 anos e talvez por isso, aos 15 já cantava nos bailes da vida e chegar ao mítico “Beco das Garrafas”, foi uma questão de pouco tempo.

 

Ela mesma profetizou que iria cantar pelo mundo inteiro e assim vieram milhares de shows nos melhores teatros e casas noturnas do Brasil, Estados Unidos, Europa e Japão.

 

O formato de guitarra e voz é absurdamente eficaz e podemos sentir claramente a intimidade e cumplicidade entre os dois, em todas as faixas do disco.

 

Não deixe de ouvir “Balanço Zona Sul”, “Dindi”, “Carinhoso”, “Ana Luisa”, “O Que É Amar” e a faixa título “Alegria de Viver”.

 

Leny Andrade é um verdadeiro patrimônio genuinamente nacional, que merece toda a nossa reverência e admiração. Emoção pura na voz.

 

Stacey Kent – “Tenderly”


 

Este CD nasceu inspirado na sonoridade da gravação “Cry Me A River” da cantora Julie London e do guitarrista Barney Kessel, ocorrida no ano de 1955.

 

Lançado pelo selo Sony Music o disco reuniu a talentosa e simpática cantora Stacey Kent, o guitarrista Roberto Menescal, seu marido saxofonista e flautista Jim Tomlinson, dono de uma sonoridade absurda e o contrabaixista Jeremy Brown. 

 

O belíssimo encarte do disco traz a citação em português do eterno poetinha Vinicius de Moraes, “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Frase que ilustra muito bem o que significa este trabalho realizado para ambos.

 

Roberto Menescal e Stacey Kent se admiravam musicalmente muito antes de se conhecerem pessoalmente.

 

O encontro frente a frente de ambos se deu apenas no ano de 2011, quando se esbarraram sem querer no “backstage” do show de comemoração dos 80 anos do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, onde ela se apresentou ao lado de Marcos Valle.

 

Não preciso nem dizer que este rápido e especial encontro foi decisivo para uma aproximação imediata entre os dois, que rendeu este lindo trabalho, intimista e repleto de inspiração.

 

Até isso acontecer de fato, foram alguns anos trocando e-mails, muitas ligações e conversas pelo telefone, encontros intimistas aqui no Brasil e no exterior, até que finalmente conseguiram realizar o sonho recíproco de gravarem juntos no ano passado na Inglaterra.

 

A pegada jazzística da voz suave e incrível de Stacey se incorporou magicamente com o timbre e a levada “bossanovista” da guitarra de Menescal. Sonoridade simplesmente perfeita.

 

Seleciono os temas “Only Trust Your Heart”, “The very Thought Of You”, “There Will Never Be Another You”, “That’s All”, “If I Had You”, “Agarradinhos” e a minhas preferidas “Tangerine” e também a faixa título “Tenderly”, que homenageou o genial cantor e pianist Dick Farney.  

 

Obrigado Menesca e Stacey por nos presentearem com este disco sublime e encantador da primeira a última faixa. 

 

Só mesmo a música pode proporcionar estes raros e incríveis encontros. O Jazz e a Bossa Nova unidos para sempre!