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Bala de lata

27/04/2019

O pessoal do mercado financeiro e a chamada “grande mídia” continuam batendo na tecla de que a reforma da Previdência é a última boia do mar para salvar o Brasil do afogamento definitivo. E o ministro Paulo Guedes reforça essa ideia, insinuando que, se ela não for aprovada do jeito que ele quer, pega o boné e o país vai para o buraco. 

O problema é que a proposta não convence nem os deputados da base governista —na verdade, nem o próprio presidente parece engoli-la. 

Neste cenário de dúvidas e questionamentos, não aparecem debates sobre as fontes de financiamento da Previdência Social: para quem não sabe, renúncias fiscais bilionárias e sonegações fazem o governo recolher menos dinheiro para pagar aposentadorias e benefícios sociais. Sem falar na famigerada Desvinculação de Receitas Orçamentárias (DRU), que desvia 30% do que deveria ir para a Previdência mas é usada para pagar despesas de outras áreas do governo, como pagamento de juros da dívida pública. Uma parte do rombo não é por causa de quanto o país gasta, mas sim devido ao que ele deixa de receber.

Enquanto só se fala em Previdência, previdência, previdência, não se ouve uma só palavra sobre temas fundamentais para o desenvolvimento do país: políticas para geração de emprego, investimentos em infraestrutura, melhoria dos serviços de saúde…

E se a tal reforma da Previdência não for aprovada como idealizou Paulo Guedes? Vamos todos mudar para Portugal? E se for aprovada e não surtir o efeito desejado, revelando ser uma bala de lata, em vez de prata? Vai ter que perguntar no Posto Ipiranga?