O escritor Nelson Rodrigues costumava usar a expressão “complexo de vira-lata” para tentar explicar situações que o brasileiro se colocava e que fugia ao bom senso. Mais ou menos o que acontece no Brasil atual, onde esquerda e direita se estapeiam enquanto o país patina numa crise que deixou 13 milhões de desempregados.
Em Santos a coisa não é diferente. Parece inacreditável, mas duas obras importantes para o desenvolvimento do município, como as da entrada da cidade e os investimentos que vão dar uma nova cara ao bairro da Ponta da Praia, ainda enfrentam rejeição de parte minoritária de munícipes. Uma parcela da sociedade que já foi chamada de “turma do não” em passado recente.
As obras da entrada de Santos já deveriam ter sido realizadas há décadas pelo fato de a cidade ser um grande polo turístico e de abrigar o maior porto da América Latina. Sua execução gera transtorno, como toda obra, mas o ganho será primoroso quando estiver pronta, daqui dois anos. Inacreditável é que essa obra não tenha sido executada há muito tempo.
A nova Ponta da Praia
Da mesma forma, as mudanças que serão oferecidas à cidade com a nova Ponta da Praia, tradicional bairro de Santos, tem o apoio da maioria dos moradores, segundo pesquisa recente divulgada pelo jornal A Tribuna, mas ainda assim enfrenta resistências de um pequeno grupo. Se não for apenas interesses políticos prejudicados, a explicação talvez esteja na velha frase de Nelson Rodrigues, o tal “complexo de vira-lata”, que nos faz sentir vergonha de crescer e de evoluir.
Afinal, que cidade não gostaria de ganhar um moderno Centro de Convenções, mais uma escola, um novo mercado de peixes e de ter um de seus mais tradicionais bairros totalmente remodelado e transformado em mais um atrativo turístico? E o mais interessante: sem que o contribuinte tenha de por a mão no bolso.
Num futuro não muito distante as novas gerações certamente vão rir de episódios como os que estamos vivenciando e que fazem de Santos, uma cidade de vanguarda e com tradição de produzir talentos para o mundo em todos os setores da sociedade, viver momentos típicos de uma pequena cidade do interior.
Nelson Rodrigues tinha razão.
Foto: Rick Bajornas/onu