Enoleitores,
Apresentarei uma série de colunas sobre a região vitivinícola da Borgonha na França, para que possam ir “degustando” suas peculiaridades e, principalmente, seu encantamento, em pequenos goles.
Iniciamos no mundo do vinho em 2002, isto é, desejando aprender sobre essa bebida fascinante, na mesma época em que meu marido e eu montamos a Piccola Forneria do canal 5. Tamanho era nosso envolvimento que fomos em busca de desenvolver esta cultura em nossa região, oferecendo e frequentando cursos e palestras, promovendo e participando de degustações, formando confrarias, jantares harmonizados — alguns com a presença de produtores dos mais variados países. Sempre que viajávamos, procurávamos conhecer alguma nova e interessante região vitivinicola.
Assim aconteceu em 2005: saímos de carro de Paris em direção a Cotê D’Azur e como estávamos apaixonados por este universo, resolvemos incluir uma rápida passada pela Borgonha, isto é, ficamos alguns dias em Beaune conhecendo um pouco da região e incluindo duas visitas a vinícolas, que marcaram muito em nossas memórias. O ponto alto foi podermos participar de um dia de colheita da uva pinot noir em Grevey-Chambertin, acompanhamos a chegada das uvas na vinícola e, assim, aprender ‘in loco’ o início do processo de vinificação. Eu nunca me esquecerei deste dia no Domaine de Olivie Guyot!
Em abril passado, após 13 anos, já formada sommelière pela Associação Brasileira de Sommeliers, decidimos passear outra vez pela Borgonha. Agora, tendo aprendido melhor sobre os locais e vinhos, optamos por ficar mais dias, procurando desvendar alguns mistérios que aprendemos em aulas dos cursos que fizemos e das degustações que participamos e promovemos.
Localizada a cerca de 3 horas de Paris, em direção ao sul da França, ela ocupa uma área de aproximadamente 175 km, que se inicia com Chablis (ao norte) e termina em Beaujolais (ao sul), próximo a Lyon. Exceto Chablis, que se localiza mais afastada, no restante podemos ver vinhedos por toda a sua extensão, plantadas em sub-regiões principais: Chablis; Côt D’Or (que origina outras duas, Côte de Nuits e Côte de Beaune); Côte Chalonnaise; Mâconnais e Beaujolais.
Essa localização regional é realmente fascinante! Dentre as regiões da França, esta, mesmo sendo pequena, é das mais intrincadas e complexas produtoras de vinho do mundo. Destilou na vinicultura toda a sabedoria e experiência de sua história, pois, desde o século VII, numerosos monastérios se estabeleceram por lá. Os monges beneditinos e cisterciences, através de um trabalho incansável de quem conhece cada nuance do solo, começaram a definir inúmeros pequenos lotes de terra, que se tornariam os melhores vinhedos da Borgonha, originando, assim, os grandes vinhos do mundo!
Os vinhos da Borgonha são, definitivamente, a expressão do seu terroir, pois refletem em seus aromas e sabores (dentro de uma visão holística) o seu meio ambiente único, incluindo o sol, o solo, a sombra e encosta onde cresceu. Lá, pode- se experimentar dois vinhos elaborados pela mesma pessoa, de mesmo modo, a mesma variedade de uva e perceber uma diversidade entre ambos, confirmando a interferência de diferenças no terroir.
As principais castas da Borgonha são a branca chardonnay e a tinta pinot noir, que, com certeza, tornam-se as porta-vozes de como esse local é especial….
Enoabraços e uma ótima semana a todos!