Enoleitores,
Outro dia, num grupo de amigos sentados à mesa, estávamos bebendo vinho tinto e, por ele ainda estar jovem, peguei um decanter. Neste instante, veio a observação: “Para que vai fazer isto?”
Então resolvi abordar nesta coluna, numa maneira simplificada, o uso deste recurso, para podermos apreciar melhor o nosso vinho.
Como diz o nome, o decanter é utilizado para decantar, ou seja, separar as borras e sedimentos que possam haver em vinhos antigos, pela simples ação da gravidade. Os materiais particulados acabam indo para o fundo do recipiente.
Neste processo, os resíduos permanecem na garrafa. Aqui há uma diferenciação: o decanter deve ser menos aberto embaixo, pois o vinho antigo já está evoluído, e aerando-se em demasia, pode-se prejudicar a riqueza de aromas e sabores.
O mais usado atualmente, é o tipo aerador, aquele decanter usual com um gargalo longo e fundo, bem redondo e aberto. Costuma-se utilizá-lo para aerar o vinho, para que possamos apressar a sua evolução, movimentando-o e, consequentemente, oxigenando-o.
Ao abrirmos e provarmos um vinho, se percebermos que ele é pobre em aromas ou ácido na boca, com taninos imaturos, “pegando” nas mucosas como a banana verde, é sinal que este vinho ainda é jovem e precisa melhorar.
Dias atrás, pedimos um bordeaux superior do Medoc, um vinho de aromas de frutas negras e especiarias. Na boca seco, percebia-se uma acidez correta, porém um pouco jovem. Ou seja, os taninos finos, mas ainda “pegando” na boca. Era um vinho longo, frutado, mas ao provar o primeiro gole, percebi que poderíamos aerar, isto é, provocar uma evolução, já que este era um vinho com potencial de crescimento. Como todos concordaram, pedimos um decanter ao garçom. Ao alternarmos alguns movimentos, deixando um breve tempo descansando, bebemos novamente: parecia outro vinho, macio, aveludado, trazendo-nos mais prazer.
Aqui, uma observação: poderíamos ir aerando nas taças, já que eram adequadas, porém precisaríamos movimentar muito mais e por etapas, para conseguirmos aquele resultado. Como nosso objetivo era acompanhar os pratos, a aeração foi mais adequada.
Numa outra ocasião, nos foi trazido um bom vinho, mas na temperatura um pouco alta. Ao ser servido nas taças, estava prejudicado por estar um pouco quente. Como não havia um funil adequado para todos devolvermos à garrafa, pedimos um decanter. Vertemos as taças e o que ainda restava na garrafa no decanter e o pusemos alguns minutos no balde de gelo. Logo, conseguimos acertar a temperatura adequada para podermos apreciá-lo. Era um belo vinho, que não podia ser desperdiçado, bebendo-o fora da temperatura adequada.
Hoje em dia, já existem pequenos aeradores, que passam diretamente da garrafa às taças. Porém, para mim, o tradicional em vidro ou cristal com o diametro maior, no qual o vinho tem mais contato com o ar, cumpre melhor este objetivo.
Concluindo, sempre que, ao degustarmos um vinho, sentirmos que ele não está como imaginamos que estaria, vale recorrer ao decanter aerador. Na falta do tradicional, pode usar os menores.
Enoabraços e uma ótima semana a todos!