Enoleitores,
Outro dia fomos almoçar em São Paulo, na casa de pessoas queridas, um casal mais jovem. Além do prazer da convivência deliciosa daquela tarde, poderia haver melhor surpresa do que sermos recebidos com uma enogastronomia francesa perfeita? Muito bacana ver a harmonização de vinhos e gastronomia sendo difundida entre a geração mais nova.
Inicialmente, ficamos na sala de estar curtindo os aperitivos à base de queijos franceses e embutidos, acompanhados de um champagne Krug rosé brut, um vinho de coloração salmão, perlage delicada e persistente, aroma de frutas vermelhas, toque de frutas secas; na boca, elegante, estruturado, acidez correta, persistente, deixando um sabor de amêndoas torradas, que combinou muito bem, limpando a boca da gordura destes alimentos. Foi servido também o aperol spritz, porém optei pelo vinho.
Passamos à mesa da sala e iniciamos nosso almoço, que foi muito prazeroso, pois este tipo de gastronomia leva um bom tempo à volta da mesa, propiciando curtirmos bons papos. Diferente da sala de estar, onde as pessoas conversam mais com as próximas, ficamos numa posição em que pudemos trocar nossas palavras entre todos.
Mas, voltando à harmonização, iniciamos mantendo o champagne, e nos foi servido junto, numa taça de dry martini, um tartar de camarão com frutas (caju, carambola e maçã verde) sobre cama de miniarroz thai ao curry. Delicioso, muito refrescante. Perfeita a harmonização! Passamos para a saladinha, mix de minifolhas verdes e grapefruit com lagostins grelhados às ervas, também foi muito bem com o champagne.
Neste momento, trocou-se o vinho e foi servido um Les Bressandes Corton Grand Cru 2013, Borgonha branco, raridade neste terroir, do produtor Chandon de Brialles. Ótimo vinho, na cor amarelo dourado, aromas de frutas brancas e tropicais, manteiga; no paladar, seco, elegante, fresco, untuoso e longo. Casou muito bem com um peixe chamado marisqueira, coberto com lasca de trufas negras da Toscana, ao molho de champagne com brócolis e cenouras. Delicioso!
Para o prato de carne, cordeiro, já havíamos conversado e preestabelecido que a harmonização clássica é com um Bordeaux. Escolhemos um de Saint – Estèphe, da margem esquerda do rio Gironde, onde os vinhos têm maior quantidade da uva cabernet sauvignon em seu corte, e um da margem direita – de Saint Emilion, onde há o predomínio da uva merlot, um vinho mais aveludado, que casou melhor com a paleta de cordeiro assada lentamente, sobre ragout de feijão fradinho ao molho com champignons, tomate e minimilho. Muito boa, derretia na boca e perfeita com o Chateau Ausone – 1ºGrand Cru Classé, 1999, um vinho no auge de seu amadurecimento, cor rubi violáceo, aromas de frutas negras, especiarias, chocolate; na boca, seco, acidez correta, vivo, taninos finos, equilibrado e longo. Casou muito bem, realçando a leveza do prato.
Encerramos com a sobremesa, um folhado levíssimo coberto com creme pasticier e banana caramelada no aroma de laranja, que ficou perfeito com o Sauternès, nada menos que um Château Gilette 1975 – Crème de Tête – um espetáculo de vinho! De cor amarelo dourado, exalava frutas brancas como damasco, pêssego, frutas secas; no palato, doce, elegante, untuoso e longo. Arrematou a refeição com chave de ouro!
Não poderia deixar de parabenizar o chefe Cai, do restaurante paulistano Oui, pela qualidade, delicadeza, sutileza e sabor de sua comida, e ao sommelier Thomaz Ziemer, que escolheu muito bem os vinhos e as harmonizações. E, principalmente, agradecer ao anfitrião, que não poderia ter sido mais carinhoso e atencioso ao nos propiciar um dia extremamente acolhedor e prazeroso. Experiências como esta permanecem gravadas em nossas memórias!
Enoabraços e uma ótima semana a todos!