Não é porque o vinho é maravilhoso ao ser degustado individualmente que ele, necessariamente, vai combinar com qualquer prato. O casamento entre a comida e a bebida depende do equilíbrio entre elas. Numa palavra: harmonização.
Nem é preciso ser um expert em enogastronomia para perceber que um vinho tinto muito encorpado vai “matar” um peixe de fibras delicadas e tempero suave ou, da mesma maneira, um vinho branco irá “desaparecer” se acompanhar um churrasco de carne vermelha.
Mas esqueça cartilhas, tabelinhas ou regras de ouro (“uva tal vai bem com comida tal…”). O que vale, no fim das contas, é a combinação na prática e, evidentemente, o gosto de cada um. Um exemplo de como pode ser prazerosa esta experiência de unir vinho e comida aconteceu na quarta-feira (29), na Piccola Forneria, quando a revista Vinho & Cia promoveu uma etapa de seu Concurso Internacional de Vinhos Harmonizados. Em cada etapa, é servido um prato (nas anteriores foram churrasco, bacalhau, pizza, feijoada, etc.) e os produtores apresentam vinhos que consideram os mais adequados para harmonizar.
O desafio dos jurados foi avaliar 12 rótulos com o prato elaborado pela Cristina Barbosa (a titular desta coluna), o Piccolo Polpettone: polpetone de filé mignon recheado com mozarela, gratinado no forno a lenha, acompanhado por talharim com ervas finas.
Os vinhos não estavam identificados. Os rótulos ficaram embalados em um pano negro, no qual estava escrito um sugestivo ponto de interrogação, e cada garrafa identificada apenas com um número. Foram servidos 10 vinhos tintos, um branco e um rosé (!) e a missão era avaliar se a bebida harmonizava com a comida. Simples assim. Nem tanto! “Não há fórmula mágica. Você pode ter um vinho excepcional individualmente, mas, se acompanhar determinado prato, fica horrível”, explica o diretor da Vinho & Cia, Régis Oliveira. “Nem é preciso ser um vinho top para a harmonização ser perfeita”, completa.
A experiência provou isso. Os resultados revelaram que a boa combinação não depende das castas de uva presentes no vinho. Em 5º lugar, foi escolhido o brasileiro Aurora Reserva 2014 (cabernet Sauvignon); em 4º, o Gropello, da vinícola italiana CàMaiol (uva gropello); em 3º, o italiano (Valpolicella) Bolla, da vinícola de mesmo nome (uva Corvina Veronese); em 2º, o francês (Bordeaux) Chateau La Rode, da vinícola de mesmo nome (uvas carbernet sauvignon, cabernet franc e merlot).
O vencedor do desafio da noite foi o Penedo Borges Reserva, um Cabernet Sauvignon da Otaviano Bodega & Vinhedos. De aroma muito intenso, revelou-se um vinho potente, mas sem oprimir o sabor da carne nem da massa.
Se não ganharam a Copa América, pelo menos desta vez os argentinos de Mendoza levaram a melhor…