A partir desta quinta-feira (11), Santos passa a oferecer um cardápio diferenciado, às segundas-feiras, nas escolas municipais. O prefeito Paulo Alexandre Barbosa sancionou a Lei nº 3.264, que institui o programa “Segunda Sem Carne” na cidade. De autoria do vereador Benedito Furtado, a legislação foi publicada no Diário Oficial.
Apresentado no início de 2015, o projeto gerou polêmica ao focar a restrição de consumo de carne, em um dia da semana, aos alunos da rede pública. Em razão disso, Furtado realizou uma audiência pública no dia 10 de março, do ano passado, com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o setor de nutrição da Prefeitura de Santos e a Secretaria de Educação.
Nutricionista especializada em dieta vegetariana, Marie da Ascenção Daniel afirma que o projeto ou a campanha não prejudicará a saúde da população. “Não existe a possibilidade de ficar desnutrido por causa da campanha “Segunda Sem Carne”. Vários estudos de instituições internacionais apontam que há segurança na dieta vegetariana para o ser humano em todas as fases da vida: gestantes, crianças, idosos e adultos. O que precisamos é nos alimentar bem, sendo vegetariano ou não”, explica.
Na ocasião, a coordenadora de merenda escolar do Município de Santos, Sophia Bonna, afirmou que as unidades municipais de ensino já oferecem ovo em alguns dias para reduzir o consumo de carne bovina e de frango, mas entende que o cardápio pode incluir alimentos mais saudáveis. “Hoje, a prefeitura atende cerca de 50 mil alunos da rede municipal de ensino e muitos pais são resistentes à ideia de suprimir alimentos. Mas sabemos que, atualmente, o número de jovens com doenças cardiovasculares vem aumentando consideravelmente. Estamos abertos a propostas que busquem sempre o que for mais saudável para as crianças. O que o prefeito decidir, será feito”, analisa.
Furtado explica que a ideia do projeto surgiu da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), que mantém a Campanha Segunda Sem Carne, desde 2009. “Aproximadamente 70 bilhões de animais são mortos, anualmente, em todo o mundo, para alimentar os seres humanos. Vivemos um período de extrema crise ambiental, do aquecimento global à perda de biodiversidade, às mudanças climáticas e às diversas doenças que afligem a população humana. Fiz este projeto com a intenção de propor um debate com a sociedade”, afirma o parlamentar.
Campanha mundial
Existente em 35 países, a campanha “Segunda Sem Carne” foi lançada em São Paulo, em outubro de 2009, numa parceria da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) da prefeitura, posteriormente estendendo-se a várias outras cidades brasileiras.
O vereador acredita que não se trata apenas de zelar pela vida animal, mas uma questão de sobrevivência humana abordar o consumo exagerado de carne de origem animal.
A falta d’água em vários estados brasileiros, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, três principais centros econômicos do país, surge como um agravante para o consumo exacerbado de carne de origem animal.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a água usada na agricultura corresponde a aproximadamente 70% de toda a água disponível no mundo. No Brasil, a ONU estima que 72% da água disponível seja usada na agricultura.
Para se ter ideia do volume de água gasto com a produção de carne de origem bovina, a cada 1 quilo de carne deste animal, gastam-se 15 mil litros de água (desde a alimentação do gado, banho dos animais e consumo dos mesmos). A carne de origem suína aparece na segunda colocação dos alimentos que mais consomem água, sendo necessários 5 mil litros para produzir 1 quilo. O frango é o terceiro alimento que mais se consome água, sendo necessários 3,5 mil litros. Tirando as carnes, o arroz é o alimento mais danoso para o meio ambiente, sendo indispensável o uso de 2 mil litros de água. Produtos como o trigo e a soja não gastam mais do que 1,5 mil litros.
Hoje, 780 milhões de pessoas ainda vivem sem acesso a água potável para beber e muitas outras sem saneamento básico, de acordo com o Conselho Mundial da Água.