Meio Ambiente

Vivendo com o inimigo

18/07/2014
Vivendo com o inimigo | Jornal da Orla
O difícil é despejar esses inconvenientes e perigosos “inquilinos”. São as chamadas pragas urbanas, denominação dada a tipos asquerosos e repugnantes como baratas, ratos, cupins, pulgas, moscas, mosquitos e outros com aparência até inofensiva, como as formigas e os pombos – símbolo da paz e do amor.
 
A receita para prevenir a presença dessas pragas é não oferecer os quatro “A”s: água, alimento, abrigo e acesso. Coisa difícil no meio urbano, principalmente em uma cidade como Santos, onde há fartura de grãos espalhados na faixa do cais e os jardins da praia escondem restos de alimentos deixados pelos frequentadores.
 
Como ajudar no controle das pragas urbanas
 
De acordo com a pesquisadora Ana Eugênia de Carvalho, do Instituto Biológico da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, é impossível varrer do mapa as pragas urbanas, mas pode-se minimizar o problema. Para isso, tanto o poder público como a população devem participar das ações. 
 
A Secretaria de Saúde de Santos, através da Sevicoz (Seção de Vigilância e Controle de Zoonozes), garante que realiza mensalmente ações de desratização e desinsetização nas vias públicas dos bairros, orla da praia e nas unidades municipais. O órgão não tem estimativa da população de pragas na cidade, mas calcula-se que nos grandes centros urbanos há três ratos por habitante.
 
Ivani Elias, da Litoral Med, empresa especializada no controle de pragas, indica como ações de prevenção manter a limpeza do ambiente, evitando sobras de comida à mostra; potes com alimentos bem fechados; vedar frestas em paredes e no solo; fechar bem o lixo, evitando que ele atraia bichos. Também importante é observar o horário em que a coleta de lixo (orgânico e reciclável) ocorre, para não deixar o lixo exposto durante muito tempo, além de não amontoar caixas de papelão, jornais e lixo em casa. 
 
A casa, por estar próximo da via pública, fica sempre mais vulnerável do que o apartamento, mas, de acordo com Ivani, tomando os cuidados necessários é possível manter os invasores a distância. “As portas devem estar sempre fechadas durante a noite, nunca deixe vidros abertos ou quebrados, mantenha lixeiras e a embalagem da ração dos animais fechadas e providencie pelo menos a cada seis meses uma desinsetização geral”, recomenda. Se o vizinho não colabora com a limpeza, a recomendação de Ivani, além dos cuidados acima, é vedar todas as portas na parte de baixo e colocar rede nos ralos.

Convivência indesejável

Roedores – Os ratos são responsáveis pela transmissão de cerca de 200 doenças, como a leptospirose, que pode levar a óbito. São animais que se proliferam rapidamente, a fêmea do rato de telhado, por exemplo, está apta a se reproduzir aos 3 meses, com uma média de 12 filhotes por cria. Além dos sérios riscos à saúde pública (eles foram responsáveis por grandes epidemias na história da humanidade), os ratos causam uma série de prejuízos à economia, podendo danificar redes elétricas e telefônicas, sacarias e outras embalagens, provocar acidentes devido aos danos causados em fios e cabos de máquinas.
 
Baratas – São mais de 3.500 espécies, mas apenas 1% está presente em ambientes urbanos, trazendo prejuízos e transmitindo doenças. São as baratas domésticas e as baratas de esgoto. O bicho é tão resistente que, na fase adulta, pode viver de 2 a 3 meses sem comida e até 1 mês sem água. 
 
Moscas – São conhecidas cerca de 150 mil espécies de moscas, que vivem em praticamente todos os ambientes do mundo e cujas larvas e adultos consomem quase todo tipo de alimento, desde sangue, excrementos e carne em decomposição, até madeira, frutas e néctar. 
 
Cupins – Existem cerca de 2 mil espécies. As principais espécies em áreas urbanas são os cupins subterrâneos (que se espalham por toda a construção) e os cupins de madeira seca (cuja presença é indicada pelo aparecimento de um pó granulado, que são suas fezes e raramente migram para outras partes).
 
Mosquitos – Além das dolorosas picadas, podem ser considerados vetores (insetos que levam doenças aos seres humanos) de uma série de micro-organismos capazes de desenvolver doenças sérias, como a malária, a dengue e a febre amarela.
 
Formigas – Existem há milhões de anos, carregam em suas patas bactérias, fungos e micróbios responsáveis por infecções intestinais e estomacais nos seres humanos, além de causarem incômodo, alergia e coceira. São muito organizadas. Convivem de forma estruturada, divididas em operárias, soldados, crias, larvas, reprodutores e rainha. São consideradas um dos principais agentes de infecções hospitalares.
 
Pombo – Eles chegaram de carona nos navios portugueses e, devido à farta oferta de alimentos e à falta de predadores naturais, se transformaram em verdadeira praga urbana em Santos. Um dos maiores perigos está nas fezes secas, pois ao tentar removê-las a pessoa pode aspirar as partículas de micro-organismo patogênicos em suspensão. O veterinário Eduardo Filetti, que desenvolve estudo de mapeamento dessas aves, defende o controle ecológico, com distribuição de anticoncepcionais nos alimentos, como já é feito em cidades da Europa, onde o pombo é atração turística (a praça São Marcos, em Veneza, é um exemplo).