Simplesmente Vinho

Um jantar em Vegas

14/03/2014
Um jantar em Vegas | Jornal da Orla
Enoleitores,
 
Neste Carnaval, resolvi dar uma fugidinha e fui ao restaurante de um dos melhores chefe americanos, Charlie Palmer, o precursor da nova cozinha americana. Um de seus restaurantes,  o Aureole, é o meu preferido. Fui conhecer o de Las Vegas, situado dentro do hotel Mandalay Bay. A adega de lá possui quatro andares, é toda envidraçada, imponente! E não é o sommelier quem pega os vinhos, mas as wine angels: elas ficam numa espécie de trapézio e vão para cima ou para baixo à procura do vinho solicitado…. Só vendo!
 
Para o jantar, escolhemos o menu degustação com os vinhos acompanhando. Eram quatro serviços, com oito pratos de degustação e quatro vinhos . Iniciou-se com um branco da Ligúria, o Punta Crena Mataossu, Riviera Lígure di Ponente 2008. É feito com uma uva típica da região  com a pigato (vermentino e moscato branco). Trata-se de um vinho diferente: cor amarelo claro, pouco aroma, um leve mineral, ácido, mas que casou muito bem com o salmão gravlax  (marinado em ervas) com toranja e minilentilhas ao vinagrete de romã  e ora king (um tipo de salmão) levemente defumado, com bastonetes de grão de bico e estragão ao creme fraiche de limão.
 
O segundo serviço era composto de minissalada de king crab (caranguejo gigante) com gengibre, servida com um creme de milho verde e aromatizado ao presunto tipo Parma  (sopa e salada). Ao seu lado, peixe pargo grelhado da Nova Zelândia, em crosta de milho com espuma de limão e tomilho, ao molho de aves. O vinho servido era um Lopez Heredia Vina Graviona 2002, Rioja, da uva viura, que ficou muito bem com o peixe, sumindo com a sopa de king crab. 
 
Por isso, eu chamei o chef sommelier, Douglas Kim, e falei que precisava de um branco com mais corpo para a sopa, pois o viura era muito fraco. Ele me trouxe um Mersault, que combinou perfeitamente. 
 
O terceiro serviço era composto de raviolone de ricota com lagosta sobre um desfiado de rabada e cebola picada caramelizada, coberto com espumas de cappuccino de lagosta. Pareando, veio mais lagosta (esta cozida na manteiga) sobre minifilés do gado wagyu do Oregon, servido com gratinado de batata trufado e foundue de alho poró. Só provando mesmo para constatar a delícia!
 
Conversando com Douglas sobre este, prato achei que casaria melhor um pinot noir, por causa do peixe, embora o sugerido era um Shiraz. Ele me trouxe os 2, o Copain shyraz  Alder Spring Spirit Rock California 2007 e o Lime Stone Pinot Noir 2009 Russian River Califórnia. Dois excelentes vinhos! Comecei a degustar os pratos com o pinot e depois com o Shiraz e precisei dar mão à palmatória, pois o Shiraz equilibrou-se perfeito com os pratos, enquanto o pinot “desapareceu”… 
 
A sobremesa, acompanhada nada menos que um Puttoynos Royal Tokaji Hungria 2008 , era um mini cheesecake  de queijo de cabra com uvas assadas e glaçadas, cobertas com crocante  pignoles. A outra, um caramelo de chocolate branco, sorbet de uvas concord e crumb de cardamomo. Foi um final feliz, memorável! Deu para confirmar que Charles Palmer, na minha opinião, continua sendo o melhor chef americano.
 
Enoabraços e uma ótima semana a todos!