Olá, amigos! Esta semana, a coluna abre espaço para um texto do meu amigo Marco Santana, editor deste Jornal da Orla, a quem eu contaminei com o vírus da paixão pelo vinho. Acompanhe:
Por volta de 1863, uma praga atacou os vinhedos de grande parte da Europa, comprometendo dramaticamente a produção de vinhos. Era a filoxera, uma doença causada por um inseto, que sugava toda a energia vital das videiras. Este ataque fulminante devastou, ao longo de 15 anos, cerca de 40% dos vinhedos franceses. O ataque também atingiu grandes áreas de Portugal e Espanha, colocando em xeque a produção dos mais nobres rótulos do Velho Continente.
Após muito esforço, viticultores descobriram a origem da praga: tinha vindo da América do Norte, de onde foram trazidas mudas para serem utilizadas em enxertos, com o objetivo de aumentar a produtividade.
Curiosamente, os produtores chilenos importaram mudas de videiras poucos anos antes do desenvolvimento da praga em território europeu. Enquanto França, Portugal e Espanha sofriam com suas plantações devastadas, o país sul-americano conseguiu dar um grande salto em sua produção.
Alguns enólogos acreditam que este ataque da filoxera no século 19 provocou a extinção de diversas espécies de uvas viníferas.
Para recuperar suas plantações, os europeus foram buscar mudas sadias justamente no Chile. Mas foram necessárias quatro décadas para que a situação voltasse à normalidade. Neste tempo, as bodegas chilenas caminharam a passos largos e rápidos, conquistando mercados com rótulos de alta qualidade e excelente custo.
Malbec
Entre as culturas atingidas pela filoxera na França estava a de uma uva chamada Côt, que proporcionava a produção de um vinho de cor vermelho intenso e sabor encorpado – era até chamado de “vinho negro”.
Pouco antes do “cataclisma vinífero”, algumas mudas foram levadas para a Argentina, mais precisamente para a Província de Mendoza. As características desta região (proximidade da Cordilheira dos Andes, amplitude térmica e baixa pluviosidade) fizeram dela ideal para o cultivo das uvas. Neste território, a uva ganhou novo nome (alguns dizem que em homenagem a um viticultor húngaro chamado Malbeck) e surpreendeu os especialistas pela qualidade dos vinhos que proporcionava. Hoje, a região possui cerca de 900 vinícolas, que são responsáveis por aproximadamente 60% da produção de vinhos da Argentina.
Mas o grande salto dos vinhos argentinos malbec foi proporcionado por Nicolas Catena Zapata, que conseguiu excelentes resultados ao plantar a uva em terrenos com mais de 1.500 metros de altitude.
Na carona do sucesso argentino, produtores franceses deixaram de designar seus vinhos como Côt e passaram a colocar malbec em seus rótulos.