Tratando-se de um simples descuido, basta dizer a expressão “tinha cegado”; se o aprendiz confundiu duas ideias estratégicas, diga simplesmente que ele “misturou tudo”. Embora isso não isente quem esteja começando de cometer novas imprecisões nas partidas subsequentes. Xeque-Mate apresenta sugestões úteis a fim de reduzir futuros deslizes.
Concentre-se – Esforce-se para não se distrair com as pessoas à sua volta, com comentários e com as outras partidas, especialmente em torneios abertos. Você não deve levantar-se depois de cada lance para comentar com espectadores o quanto você está indo bem. Em verdade, eles não estão interessados nisso e você, provavelmente, conceituou mal sua posição. As distrações devem ser reduzidas a um mínimo aceitável, seguindo-se o exemplo de um nova-iorquino que, numa grotesca paródia de Botvinnik, segurava a cabeça como se fora um torno, enfiava os dedos nos ouvidos e fingia que todo o universo começava e terminava no seu tabuleiro. Esse mestre não ganha muitos amigos, mas também não perde muitas partidas.
Nunca relaxe – Ao invés de esperar que seu oponente abandone a partida, force-o a desistir. É fácil esquecer que até mesmo as posições desesperadoras podem conter uma pitada de veneno, uma cilada decisiva. Trabalhe com tanto afinco para converter decisivamente uma vantagem como você o fez para consegui-la. No Xadrez, tudo pode acontecer. Lembre-se: o jogo só acaba quando termina, não comemore por antecipação.
Não subestime o adversário – Não faça lance arriscado na esperança de que o oponente não o veja; mesmo quando você estiver enfrentando um neófito. Na verdade, enxadristas fracos jogam tão descuidadamente que poderiam refutar seu jogo apressado por acaso. Além disso, sempre pense que os jogadores preferem não se arriscar e correr na pista certa.
Não jogue mecanicamente – Não faça lances precipitados; não dê respostas “automáticas”. Mesmo a posição que parece exigir resposta forçada pode ocultar uma inesperada jogada intermediária. Você não vai descobrir coisa alguma caso se apresse em responder ao seu adversário antes que ele tenha acionado o relógio. De outra parte, não se atole em filigranas para não ficar apurado no relógio. Isso, pode ser tão prejudicial quanto jogar demasiadamente rápido.
Tenha seu ritmo de jogo – Se você frequentemente fica pressionado pelo tempo, pode perfeitamente lutar contra isso. Registre o tempo expirado a cada cinco (ou dez) lances na sua planilha. Assim, deve ficar apto a enfrentar melhor a tensão, muito embora certos “nervosinhos” afirmem que não têm tempo nem mesmo para isso. Poucos e extraordinários enxadristas parecem ter êxito quando dispõem de menos de um minuto de relógio. Eles frequentemente ganham porque seus adversários erram quando insistem em seguir o mesmo ritmo na tentativa de induzi-lo ao erro. A maneira correta de explorar o apuro de tempo do oponente é procurar fazer o melhor lance na posição, mesmo que isso exija reflexão mais profunda para encontrá-lo. Essa aparente “pausa para respiração” é compensada pela necessidade que tem o adversário, acuado pelo tempo, de encontrar uma resposta boa e racional.
Discipline seu pensamento – Não fique tão absorvido numa só linha de pensamento que deixe de considerar o óbvio. Atente, por exemplo, para o caso de um xeque do adversário. Você poderá refutá-lo no começo de uma análise e, assim, não ver que quatro lances depois o mesmo xeque que você refutou mentalmente poderá romper uma sequência e subverter toda a variante que escolheu. Assim, antes de iniciar uma extensa linha de jogo, esteja certo de rever as ameaças inimigas diretas, não apenas no início de uma série de lances, mas também em cada passo dado ao longo do caminho.
Ratificar ou retificar? – Recomenda-se que você anote cada lance na planilha antes de efetuá-lo no tabuleiro. Você pode ficar chocado ao ver na planilha uma bobagem que você mesmo escreveu. Além disso, seu adversário também pode reagir a um erro escrito por você e, sem querer, “avisá-lo” por meio de uma alteração fisionômica ou atitude corporal. Certa vez, Bobby Fischer chamou de “embusteiros” os enxadristas que utilizavam esse expediente, pois eles estavam realmente fazendo anotações à parte. No entanto, as críticas de Fischer não impediram os erros crônicos de experimentar essa “técnica”. Acredito que eles foram chamados de nomes muito piores que esse.