Nosso amigo Ricardo Cardozo continua nos fazendo viajar por Bordeaux. Acompanhe:
“Continuamos em Bordeaux, agora para darmos um panorama geral de seus vinhos, daqueles que povoam nosso imaginário e teimam em não se tornar realidade para nós, pobres mortais, e também daqueles com mais chance de frequentarem nossas adegas.
Os vinhos
Os grandes vinhos da margem direita se concentram em Pomerol e Saint Emilion Grand Cru. Em seguida, vêm os vinhos produzidos em Lalande de Pomerol, Saint Emilion, Fronsac e Canon-Fronsac. O que existe de comum entre estes vinhos é a predominância da Merlot sobre suas companheiras de barricas, a Cabernet Franc e, mais raramente, Cabernet Sauvignon. O uso da Merlot chega, em algumas safras, a notórios 90% em grandes vinhos de Pomerol, Petrus por exemplo. O resultado são vinhos carnudos e gourmands, com uma estrutura bem definida e que podem até ser degustados em sua juventude. Mas, sem sombra de dúvida, adquirem uma complexidade extraordinária com o envelhecimento. As demais AOCs da margem direita são mais democráticas em relação à participação das castas na “assemblage” (corte) dos vinhos e os bons produtores dispõem de vinhos tintos e brancos de ótima relação custo/qualidade.
Já na margem esquerda, de Graves ao Médoc, quem impera é a Cabernet Sauvignon. Na região de Graves esta casta, associada à Merlot, produz um vinho de grande finesse e sutileza, com uma fruta marcante e excelente estrutura, porém pede uns quatro anos (os mais simples) pelo menos para ser melhor degustado.
No Médoc a presença da Cabernet Sauvignon é bem mais marcante e com todas as características que a consagrou mundialmente, resultando em vinhos com taninos riquíssimos, de complexidade aromática ímpar, potentes, cor incomparável e na maioria das vezes ásperos e rudes na sua juventude, mas de uma grandeza majestosa na velhice. A AOC Pauillac, localizada no centro da região do Médoc e às margens da Gironde, é a expressão maior de toda Bordeaux. É lá que estão Latour, Lafite-Rothschild, Mouton-Rothschild, entre outros grandes nomes.
A classificação dos vinhos
Duas regiões produtoras de Bordeaux possuem classificação qualitativa de vinhos com real importância. Na margem direita Saint Emilion Grand Cru e na margem esquerda o Médoc.
Os vinhos de Saint-Emilion são classificados como Premiers Grands Crus Classés A, Premiers Grands Crus Classés B e Grands Crus Classés. A cada 10 anos é feita uma revisão na lista de classificados, e os vinhos podem subir ou descer na classificação de acordo com a manutenção da qualidade e características durante este período. A última foi em 2012.
No Médoc a classificação foi publicada em 18 de abril de 1855 e sofreu apenas duas alterações até hoje. Diferentemente de Saint-Emilion, esta classificação se baseou na qualidade dos vinhos atestada, na época, pelo preço e pelo histórico de 200 anos de preferências dos consumidores, sem levar em consideração o local do vinhedo, mas sim a marca do vinho. Temos então os Crus Classés que vão do Primeiro ao Quinto em ordem decrescente de “qualidade”. Os Premiers Crus Classés 1855 são: Latour, Lafite, Mouton, Margaux e Haut-Brion, que é o único de fora do Médoc.
Bons vinhos a todos!
* Ricardo Cardozo é diretor executivo da Associação Brasileira de Sommeliers – Litoral Paulista