O dono ofereceu um bandolim para comprar e disse que tocar um instrumento era uma ótima forma de atrair garotas. O rapaz achou interessante a ideia e, depois de uma negociação, comprou o instrumento.
Ele já ouvira falar de uma orquestra de bandolins que praticava todas as semanas. A jovem Dora já tocava na orquestra. Foi olhar o rapaz e ir se encantando aos poucos. Um dia, criou coragem e o convidou para ser seu par numa festa da escola.
Começaram a namorar. Quando andavam lado a lado, Lucas segurava o braço de Dora gentilmente. O jovem par se casou. Era o ano de 1944 e Dora acabara de completar 20 anos. Três anos mais tarde, nasceu o primeiro filho, e depois o segundo e o terceiro. Preocupações sempre havia. Orçamento familiar.
Comportamentos na escola. Momentos sérios de conversas ao redor da mesa da cozinha, depois de colocar as crianças na cama. E elas ouviam, de seus quartos, as vozes suaves dos pais flutuarem pelo corredor. Risos eram constantes naquele lar. Contavam histórias bobas, só para rir.
Quando as crianças ficaram maiores, Dora manifestou desejo de trabalhar meio período. E, se isso a faria feliz, tudo estava bem para Lucas. Logo, ela chegaria à conclusão que, sem um diploma universitário, não teria promoções, não cresceria. E nem seu salário.
Reuniu marido e filhos ao redor da mesa da cozinha e expôs seu plano. Precisava e desejava obter um diploma universitário. Queria ser professora de verdade. No entanto, o marido teria de cuidar das crianças, durante a noite.
O filho maior teria que colaborar, chegando em casa cedo o suficiente para ajudar o pai com o jantar. A filha do meio deveria auxiliar a menor nos deveres de casa. Lucas respirou fundo e disse: “Dora, não se preocupe. Ficaremos bem. Sei o que isso representa para você. Serei o homem mais feliz desta cidade porque terei a mulher mais feliz ao meu lado”.
Aos 50 anos, Dora recebeu o grau de bacharel em educação pré-escolar. Lucas enxugou lágrimas de alegria, irradiando orgulho. Ele não conseguiu terminar os estudos, pois precisava trabalhar para ajudar no sustento da família. Dia desses, Dora precisou viajar para ir ao casamento de um parente. Lucas ficou em casa, porque não gosta de viajar. A filha, preocupada com o pai sozinho em casa, telefonou. Achou a voz dele muito estranha.
-Algum problema? Perguntou.
-Promete que não vai rir? Sinto falta de sua mãe.
-Mas, pai, ela viajou há poucas horas.
-Eu sei, mas depois de 60 anos de casamento…
Bem, na história de amor desse casal, nada existe de extraordinário. O seu conto de amor não tem mágica, castelo, fada madrinha, varinha de condão. Então vem a pergunta: como eles conseguem viver juntos há tanto tempo? Simples: eles nunca brigam. Não são abertamente carinhosos, mas têm uma união muito profunda.
Importam-se um com o outro. Relevam pequenas falhas. Exaltam as virtudes de um e de outro. Sobretudo, entre carinho, ternura e afeto, uma grande dose de respeito mútuo.
[com base no artigo “Uma História de Amor à Moda Antiga”, de Lorri Benedik, da revista Seleções do Reader´s Digest, outubro/2005]
PAZ, SAÚDE E PROSPERIDADE