Vez ou outra, ao caminhar na praia, nos deparamos com peixes miúdos mortos, boiando na beira da água. Sinal de que podem ter sido capturados acidentalmente por redes de barcos pesqueiros e depois descartados por não interessar comercialmente. Trata-se de uma ação condenável, mas muito praticada e que coloca em risco o ecossistema e a existência de várias espécies marinhas. Daí a importância do papel que o consumidor deve exercer, fazendo escolhas de menor impacto nas reservas do oceano e garantindo a sustentabilidade da fauna e da atividade comercial da pesca.
Cerca de 80% das principais espécies exploradas na costa brasileira estão em estado de sobrepesca, resultante da retirada excessiva de pescado acima do limite que uma espécie é capaz de se repor na natureza. A sardinha é um desses exemplos. Antes disponível em toda a costa, ela quase desapareceu dos mares brasileiros. Em 1973, a produção de sardinha-verdadeira no Brasil era de 228 mil toneladas. Em 2011, de 75 mil toneladas.
Para Simone Jones, do programa Seafood Watch, do Aquário de Monterey Bay, Califórnia, referência em estudos do gênero, a palavra de ordem é pesca sustentável e o consumidor, a chave para a solução. “O estoque mundial está em declínio, e a captura acidental (quando outros animais marinhos são capturados sem intenção) é a maior responsável por isso, antes mesmo da poluição e dos fatores climáticos”, disse.
Na segunda quinzena de março especialistas nacionais e internacionais estiveram reunidos no workshop de Reformulação e Atualização do Guia de Consumo Responsável de Pescados, realizado na Unimonte, em Santos. O guia é considerado o primeiro catálogo brasileiro promotor da interação entre o comércio de pescados e a conservação da fauna marinha.
Impacto nos oceanos pode ser irreversível
Para se ter uma ideia da repercussão que as escolhas do consumidor têm no estoque do oceano, saiba que para comer um sanduíche natural de atum de 100 gramas foi necessário retirar do mar 100 quilos de peixes pequenos. Quer mais: 7 milhões de toneladas de vida marinha são descartadas anualmente no mundo; por ano, cerca de 308 mil golfinhos e baleias morrem devido à captura acidental; 26% das espécies brasileiras comercialmente capturadas estão sobrexplotadas (extração excessiva) ou ameaçadas de sobrexplotação. No Estado de São Paulo, a toninha e a tartaruga-verde são as espécies mais capturadas.
“Se continuarmos assim, sobrarão para nosso consumo no futuro as algas marinhas e os pepinos-do-mar. Não haverá mais populações de peixes que possam ser consumidos”, alerta a coordenadora do Guia de Consumo e de Pesquisa e Extensão da Unimonte, Cintia Miyaji.
Confira quais pescados podem ser consumidos
Bom Apetite (Sinal Verde)
Abrótea (bacalhau brasileiro), agulha, atuns (bonito), betara (perna-de-moça), bijupirá, cabrinha, camarão rosa, camarão branco, caranguejo vermelho, cioba vermelho, carapau, carapeba, carapicu, caratinga, cavala, cavalinha, corcoroca, dourado, peixe-espada, espadarte (meca), garoupa, guaivira, lulas, manjuba, manjubão, maria-luiza, mexilhão, miragaia, olhete, olho-de-boi, olho-de-cão, olhudo, ostra-de-mangue, ostra-japonesa, oveva, palombeta, pampo, parati, pirajica, prejereba, robalo, salema, salmonete, sarrão, savelha, sororoca, trilha, vieira, xaréu, xixarro.
Coma com Moderação (Sinal Amarelo)
Agulhão (vela), anchova (enchova), bagres, baiacu, batata, bicuda, barracuda bicuda, pescada-bicuda, camarão rosa e camarão branco (pesca extrativa), camarão sete-barbas, camarão carabineiro, caranguejo real, caranguejo vermelho, caranguejo de profundidade, castanha, congro, congrio, corvina, galo, garoupa (não de cativeiros), goete, guaiúba, lagosta, lagosta-sapateira, lagostim, pitu, linguados, mangangá, merluza, miracéu, mexilhão (coleta em ambientes naturais), namorado, pargo, paru, frade, peixe-rei, pescadas, polvo, porco, porquinho, peixe-porco, raias, emplastros, arraias, sardinha, siri, tainha e vieira (coleta em ambientes naturais).
Evite (Sinal Vermelho)
Atuns (albacora), albacorinha, badejo, abadejo, cações ou tubarões, caranguejo-uça, caranha, cioba (pesca extrativa), cherne, lagosta (durante o defeso), lagosta-sapateira (durante o defeso), lagostim e pitu (durante o defeso), ostra-de-mangue, peixe-lua, emplastro-borboleta e raia-emplastro.
Não, Obrigado! (Sinal Preto)
Badejo-tigre, cação-anjo, caranha-vermelha, cioba-vermelha, mero, peixe-serra e raia-viola.