Na política existe um abismo entre a pessoa e o personagem. Não é de agora, mas as redes sociais possibilitaram a expansão disso a níveis inimagináveis. Os candidatos (incluindo os marinheiros de primeira viagem) usam os mesmos jargões e as mesmas fórmulas, criando personagens que não tem relação alguma com as pessoas que os encarnam. Respostas padronizadas como “ o clamor popular me fez lançar meu nome na disputa “ ou “ aceitei o desafio “ inundam as redes. E no mesmo dia do anúncio do desafio passam a postar as imagens desses novos personagens que nascem do projeto político. Passam a se preocupar com a educação, a saúde, a segurança, a limpeza urbana, o destino da humanidade, o Pé Grande e centenas de assuntos para os quais nunca deram a menor bola.
E aí o eleitor passa a ter que escolher qual o melhor personagem ao invés de escolher a melhor pessoa. O problema é que o personagem só existe na eleição. Não é ele que exerce o mandato, seja legislativo ou executivo. A partir da posse, o caráter, ou a falta dele, é que norteia os atos daquele ex-personagem. O corrupto faz o oposto do que disse na campanha (afinal todos são contra a corrupção), o fisiológico cobiça cargos, o defensor da família tenta arrumar uma vaguinha para sua amante (ou amantes), compondo o quadro da realidade política em que vivemos desde que nos tornamos independentes.
Mas será que nunca aprenderemos que o voto não deve ser dado ao personagem e sim à pessoa? Será que nossa sina como país é ter políticos hipócritas, mentirosos, corruptos e desprovidos de espírito público? Triste, mas é nossa realidade.
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