Sala de Ideias

Para onde vai o Santos FC?

14/11/2022
Para onde vai o Santos FC? | Jornal da Orla

Edgar Boturão

Ao final de dois anos de administração, o que se vê é o clube à beira do abismo

Era dezembro de 2020. Vila Belmiro lotada. Alvinegros em festa desfilavam esperançosos com camisas, faixas e bandeiras em apoio aos respectivos candidatos. Sim, era dia de eleição do presidente do Santos FC, certamente o cargo mais importante da cidade, depois do prefeito. Repito, em relação à cidade, sim. Ao país e ao mundo, não. Afinal, o prefeito de Santos tem importância local e regional. Governa para cerca de 430 mil habitantes. Já com o presidente do Santos é muito diferente.

Estatisticamente, são mais de seis milhões de torcedores espalhados pelo Brasil, que, momentos após o pleito, já o conhecem e depositam nele suas expectativas para um mandato, no mínimo razoável. E foi assim na última eleição. O atual mandatário teve uma vitória inquestionável. Obteve praticamente 50% do total de votos dos associados, deixando para trás os outros cinco adversários. Aliás, no transcorrer do pleito era evidente o seu favoritismo, graças ao número de apoiadores, sensivelmente superior ao dos concorrentes, que circulavam em torno do velho e sagrado estádio Urbano Caldeira e da campanha competente que fez pelas redes sociais.

Vale lembrar que, naquele momento, mesmo para surpresa de muita gente, minha inclusive, o Peixe disputava a semifinal da Copa Libertadores, contra o sempre perigoso Boca Juniors. E, sob o comando competente de Cuca, o time chegou a finalíssima. Bem, evidente que não se tratava do time dos sonhos, mas era uma equipe competitiva e que, mesmo sem conquistar títulos, orgulhou os santistas. Após essa decisão, começou de fato a gestão do atual presidente do clube.

E o que se viu até agora? Rigorosamente NADA. Ou, pior, um total desmanche do time profissional, com jovens valores sendo lançados sem qualquer preparo para tal, além de contratações de jogadores fracos tecnicamente que, inexplicavelmente, chegaram a peso de ouro. Treinadores contratados e dispensados sem o menor critério. O departamento médico desmantelado, como ocorreu também com o de fisiologia. E, ao final de dois anos de administração, se é que se pode chamar assim, o que se vê é o Santos à beira do abismo. Ou seja, sem time, sem técnico e, lamentavelmente, sem rumo.

A desculpa é sempre a mesma, as dívidas do clube e a situação pré-falimentar destacada inúmeras vezes pelo presidente, como se tivesse prazer em desvalorizar publicamente uma marca tão importante. E mais: não há perspectiva de melhora, pelo contrário. Afinal, qual é o planejamento para a próxima temporada? Quem será o gerente de futebol? E o próximo treinador? E o elenco, quando será definido? Quem desse péssimo time vai ficar e quem será dispensado? E as próximas contratações, serão ruins como as últimas?

São perguntas para as quais duvido que o atual mandatário já tenha respostas. Certamente não tem, pois está viajando no sonho encantado da construção de uma arena, que, de realizada, aumentará o público nos jogos, além de sediar shows e eventos culturais, aumentando consideravelmente a arrecadação do Santos. Mas se um dia o sonho se concretizar, é provável que o time de futebol não esteja mais na série principal do campeonato brasileiro.

Esta estranha visão de “gestão” de futebol que, verdade seja dita, o atual mandatário sempre disse que não gostava, até aqui serviu apenas para apequenar um gigante que ainda não foi rebaixado graças à mística da sua gloriosa camisa. Já repeti várias vezes na TV que considero o presidente do Santos absolutamente inapto para o cargo, pois não tem o entendimento correto sobre o mundo da bola, que desde sempre caracteriza-se por uma realidade paralela ao dia a dia do cidadão comum.

Lamento afirmar que não tenho esperança de nenhuma mudança positiva a curto prazo. Entendo que, para o bem do Santos FC, só a renúncia do atual presidente pode trazer um alento.

Aproveito para desafiar as forças vivas do clube, os verdadeiros santistas, aqueles que, logicamente, tem status para de colocar à disposição do Santos a darem as caras e se posicionarem para impedir um mal maior.

* Edgar Boturão é jornalista (santista roxo, há 61 anos)