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Poeta artificial?

25/10/2022
Poeta artificial? | Jornal da Orla

Dois anos antes do meu nascimento, em 1956, a ciência já experimentava o que chamamos hoje, “Inteligência Artificial” ou apenas “IA”. Ela deriva do cruzamento de dados computacionais e faz muitas coisas em nosso lugar. Por exemplo: um dos aplicativos, que vêm conquistando usuários de smartphones e computadores de todos os tamanhos e modelos, o DALL-E, espera você escrever qualquer coisa e gera uma imagem, em questão de segundos.

Mas já há outras experimentações de “IAs”, para gerar no futuro próximo, textos e músicas. O público ainda não tem acesso ilimitado a essas ferramentas, que põe a pulga atrás das orelhas de profissionais de criação e execução de ilustrações, diretores de artes de agências de publicidade, escritores, compositores etc.

O especialista norte-americano Kevin Kelly, um dos gurus de tecnologia contemporânea, reduz os temores e avalia hoje que a “IA” não roubará nossos empregos, não destruirá a criatividade humana, muito menos invalidará a forma com que pensamos e criamos negócios. Mas é bom prestar a atenção que a IA ronda nosso ambiente criativo, artístico, fonte de economia criativa.

Recentemente, um designer de jogos, Jason Allen, conquistou o primeiro lugar numa competição de artes, nos EUA, com uma obra criada a partir de um gerador de textos com “IA”, chamada de “Theatre d’Opera Spatial”. A vitória foi alvo de polêmica nas redes sociais, com críticas que dão conta que o profissional enganou os juízes do concurso, porque a maioria do público não sabe como as tecnologias de IA voltadas para imagem funcionam.

E há outros casos comentados em rede desses avanços: Amy Winehouse, Kurt Cobain, Jimi Hendrix e Jim Morrison, que tiveram mortes precoces, tem agora novas músicas, sem que sejam um lançamento ou alguma composição esquecida em gravações perdidas de estúdio, tampouco são novas roupagens de músicas que já estavam por aí, mas arranjos e letras inéditas como se os próprios artistas as tivessem escrito caso ainda estivessem conosco.

Assim, já imaginou escutar um novo hit de Tim Maia ou do nosso também saudoso Cartola, quando bem entender? Os artistas argumentarão que a “IA” não substituirá a arte, porque apesar dessa evolução tecnológica toda, os computadores não possuem alma, sentimentos, histórias.

Mas, se focarem nessa facilidade como uma ferramenta a mais para a sua criatividade, como capacidade inata, criando ambientes para promovê-la ou aprimorá-la, a “IA” será uma vantagem para si.

Então volto para o meu fazer comum, de poeta, que vê e sente a vida como ela é, confrontando com a “IA”, a escrever. Minha diferença é a da vivência poética, com nuances loucas, apaixonadas e sonhadoras, além da capacidade de captar o todo e teclar versos. Um desafio difícil de ser alcançado pela “IA”, mas será impossível? Nunca imaginei o poeta perder a sua vez, morrer.

Será que uma “IA” será capaz de escrever uma peça nonsense, aparentemente sem sentido, como “Esperando Godot”? Ou ela seria condicionada a atribuir significado a tudo? Como uma inteligência artificial vai superar Clarice Lispector, com seus romances carregados de poesia e alma?

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