São muitas as perdas somadas nos últimos anos, que fica parecendo que Deus escolheu as pessoas mais próximas de você. Mas daí quando você comenta entre os seus a notícia de que fulano morreu, o sicrano tem sempre a informação de que um próximo dele também partiu, sem se despedir. E assim vamos vivendo esse novo normal, doído demais para quem já acreditou que a longevidade conquistada pela ciência, e a cumplicidade da medicina, superpovoaria o Mundo de gente de várias gerações, a compartilhar sonhos e vivências.
No domingo, passado, dia 17 de julho, por exemplo, fiquei triste de novo, quando soube através de mensagem de seu filho Patrick Bassanelli Rodrigues, que o santista e amigo Arlindo Rodrigues, conhecido no mundo das artes visuais e no jornalismo por Geandré, faleceu, vítima de infartos no seu coração e outras infecções em órgãos vitais de seu organismo. Quando fiz a postagem chorando entre os dedos no meu teclado, as respostas de imediato repetiram tristeza igual de outras tantas notícias parecidas.
A pandemia do novo coronavírus, a Covid-19, passou a régua em 6 milhões e 300 mil pessoas em todo o mundo – 676 mil só no Brasil, e infelizmente fez com que fossemos obrigados a aceitar essas mortes em evolução que foi galopante desde 2020, até se deparar com as vacinas imunizadoras. Portanto, de uns tempos para cá a contabilização de nossas perdas humanas, tem outras origens, muitas das quais agravadas ainda pelo efeito consequente e contaminante desse vírus desgraçado.
Então, morremos de infartos nos corações, acidentes vasculares cerebrais, pneumonias, cânceres etc., além da violência que domina no continente asiático, pelos comandos de Vladimir Putin contra a Ucrânia, pelos desequilibrados franco-atiradores em desfiles e escolas primárias americanas, pelas balas perdidas nas regiões adjacentes dos morros cariocas, pelas emboscadas contra indigenistas e pacifistas, pelas ruas e becos urbanos ou periféricos sem luz de São Paulo e do Brasil afora.
Mas, a par de ser um sobrevivente (graças a Deus) nessa selva planetária, e de transformar a minha participação ativa nas redes sociais em necrológios, substituindo as notícias positivas, as posições políticas, o combate às fakes News e à intolerância sobre qualquer tema, não escondo que sinto uma sensação de fracasso. Ainda nessa semana, ao comentar sobre a perda da professora e antropóloga Eunice Durham, um amigo refletiu sobre “os bons intelectuais que estão indo e não vejo chegarem os novos para substituí-los”.
Creio muito nos legados que precisam ser eternamente lembrados, para que prossigam nas suas floradas e frutos. Os tempos novos que vivemos são os futuros que imaginamos em variadas fases de nossas vidas. Cada um teve o seu desenho de futuro, até porque nem sempre sonhamos juntos ou tivemos condições mais iguais de planejar o alcance, a realização.
O momento conturbado traz uma certa insegurança, que leva à desordem dos pensamentos e da tomada de posições. O negacionismo relutante ou o ignorante com iniciativa convivem e nos oferecem mais dúvidas e desconfianças. Por isso hoje não estou receptivo às embalagens novas de conteúdos obsoletos, reacionários e estéreis.
Fazemos parte de uma geração que se sente culpada por não ter preparado continuadores ou inovadores mais consequentes para o mundo novo.
Só sei que essas partidas da vida abrem um abismo, que machuca e dói. Sofro bastante com essas perdas de familiares, amigos próximos ou referenciais. Se sabe melhor do seu próprio destino, escrito ou não nas estrelas, mantenha a esperança de caminhos iluminados também para os seus próximos.
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