Margareth Signorelli
Em 3 de maio de 1960, quando a pílula anticoncepcional foi lançada nos EUA, a partir daí nos foi dada a oportunidade de escolher ou ter um controle sobre a concepção, mas e quanto ao nosso prazer? Não quero discutir aqui a relação Homem X Mulher dentro dos direitos ou perante a sociedade, quero explorar a conscientização de que ninguém nos impede ou proíbe de ter prazer, se não nós mesmas. Mas o que é ter prazer? O prazer não está ligado aos nossos órgãos genitais ou nossas zonas erógenas.
O prazer está no sentir, está na nossa mente. Pegue sua comida predileta, fique em silêncio, feche os olhos e sinta simplesmente o sabor daquele alimento. Provavelmente o seu corpo reagirá se manifestando com um som como ‘humm’, igual ao que pode acontecer em relação ao sexo. Mas vamos mais longe…e o prazer sexual? O que não nos ensinaram é que prazer não começa nas brincadeiras sexuais ou na sua primeira relação. O prazer deve começar no seu autoconhecimento e autoaceitação. “Saber onde o clitóris fica é conhecimento, saber onde o SEU clitóris fica é poder”.
Fico feliz quando eu vejo séries como ‘Fundamentos do Prazer’ – minissérie documentário com 4 episódios que acabou de chegar na Netflix e está entre as mais vistas – fazendo sucesso mundialmente, mas percebo que ainda existe um caminho longo a ser percorrido para que possamos finalmente nos libertar dos tabus que nos foram impostos para chegar na liberdade que merecemos ter.
Uma das perguntas mais comuns que recebo é ‘Porque os homens sempre têm orgasmos e nós não?’ Tenho várias respostas para essa pergunta. Porque o genital masculino é mais exposto, o que facilita desde a infância ser descoberto, explorado e estimulado. Teoricamente eles praticam muito mais a masturbação do que nós, mulheres, e detalhe: sem culpa.
Incentivo muito a prática do espelhinho para o autoconhecimento. Se tocar para saber o que é gostoso e o que não é, aprender cada vez mais com a prática.
Pesquisas mostram que nós, mulheres, temos menos orgasmos que os homens. Veja! O orgasmo depende de foco e os homens quando fazem sexo, seja consigo mesmo ou em uma relação, focam no prazer. Enquanto nós, deixamos a mente transitar entre a lista do supermercado ou se as crianças estão ouvindo. Nós, mulheres, temos a grande vantagem sobre os homens de estar em um estado orgástico e não necessariamente ter um orgasmo. Estado orgástico está entre a excitação e o clímax, segundo o modelo de resposta sexual de Rose Marie Basson, psiquiatra canadense. É onde liberamos vários hormônios do prazer e não chegamos ao final.
E, na opinião de muitas mulheres, muito melhor que o orgasmo em si, pois você pode se manter por muito tempo aproveitando a onda de prazer que o mesmo proporciona.
O ideal é perceber o que lhe dá prazer e se permitir e também afastar tudo o que possa te impedir de estar 100% presente na sua masturbação ou no seu ato sexual com alguém.
Entenda que ter prazer é se conhecer, se gostar e se permitir. Aproveitar cada parte do seu corpo como você quiser. Ter prazer é mais do que um direito, é um dever.
Margareth Signorelli é pós-graduada em Sexualidade e terapia sexual pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e fundadora do ILE – Instituto de Liberação Emocional