Telma de Souza
Jurista, filósofo e político, Sérgio Sérvulo da Cunha lutou por seus ideais. E nós, aqui, seguiremos na luta.
Passaram-se alguns dias da morte do Sérgio. Para os amigos, que já sentem tanto, ele era apenas o Sérgio. Para a eternidade, o que fica para a História, foi um santista que se tornou um grande jurista, filósofo e político chamado Sérgio Sérvulo da Cunha.
A ficha vai caindo lentamente e, a cada instante, nos apercebemos que a sua presença forte e constante, incentivando e orientando para as lutas, já não está entre nós. Pois sim, o que resiste é o seu exemplo e o tanto que nos ensinou.
Não sei ao certo quando conheci o Sérgio, pois o tenho como constante na vida há muito tempo. Creio que foi por volta da década de 70, quando ele ainda militava pelo MDB, partido que minha mãe, Hilda Augusto de Souza, ajudou a fundar em Santos. Já naquela época, a Política era onipresente em minha casa, embora eu rejeitasse a possibilidade de fazer parte dela.
O Sérgio foi um jovem idealista, desde sempre. Preocupado com as mazelas sociais, buscava fazer a diferença, mudar a realidade do nosso povo. Certa vez, disse-me que escolheu Direito, pois combinava mais com Filosofia, Literatura, Jornalismo, temas dos quais gostava, e com os seus pensamentos. Essa escolha explica – e muito – como foi o Sérgio na vida: um professor. O professor que sempre falou mais alto inclusive nas defesas do jurista, que argumentava que o Direito não pode se sobrepor à Justiça. Esse princípio é exatamente o que norteou a relação do jurista Sérgio Sérvulo da Cunha com as causas defendidas pelo cidadão e agente político Sérgio.
Quando formamos, em 1988, a chapa vitoriosa para a Prefeitura de Santos – eu, Prefeita, ele, Vice-Prefeito – tínhamos essa clareza. Ao desempenhar também a missão de secretário de Assuntos Jurídicos do governo municipal, as necessidades das pessoas teriam de estar à frente das letras frias das leis. Graças à condução atenta do Sérgio, pudemos tomar as medidas sociais em atendimento ao rigoroso cumprimento da legislação. Embora nessa dupla, considerássemos eu a emoção e, ele, a razão, Sérgio jamais dissociou o texto constitucional do olhar sensível e fraternal sobre as pessoas.
Essa conduta foi pautada em toda a vida desse companheiro de tantas lutas. Basta passar sobre alguns de seus feitos durante sua trajetória. Como presidente da Subseção Santos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), liderou uma ação pelo restabelecimento da autonomia política de Santos. Ainda enquanto vice-prefeito, fez a defesa jurídica do impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo, indignado com o sofrimento da população que, naquele momento, amargava a fome, o desemprego e a violência tão atuais.
Mais recentemente, coordenou, junto com o também saudoso Célio Nori, o Fórum da Cidadania, sendo a trincheira da resistência a tudo o que é conservador e limitador em nossa Cidade e Região. Atuava pelos direitos humanos e era, ainda, uma voz firme em defesa da Democracia, tão ameaçada nestes tempos sombrios.
Há uma certeza que a vida do Sérgio significou tão bem: sonhos não morrem. Os do Sérgio vivem por justiça social, pela garantia de direitos e pela soberania popular. Vivem nos familiares, amigos e companheiros de ideiais que são inspirados por suas memórias, ensinamentos, conselhos, e, sobretudo, por suas ações.
Sérgio Sérvulo da Cunha foi um gigante. Amou Santos e sua gente. Lutou por seus ideais. E, nós, aqui, seguiremos na luta.
Telma de Souza é vereadora em Santos, foi prefeita de Santos (1989-1992) e deputada federal (PT)
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