Caracterizado pela oscilação de humor, o transtorno bipolar é uma doença que pode apresentar os primeiros sinais no período entre a infância e a adolescência. O psiquiatra Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da infância e da adolescência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica sobre a importância do diagnóstico precoce.
Os sintomas, em geral, começam na puberdade. Mas já é possível observar que a criança com o distúrbio é mais irritada e, eventualmente, apresenta sintomas depressivos, com tendência ao isolamento. Com o passar do tempo, os sinais começam a ficar mais frequentes. A alteração de humor se caracteriza por um comportamento mais expansivo ou muito irritável.
De acordo com o psiquiatra Guilherme Polanczyk, há aumento de energia, excesso de distração, grandiosidade (o jovem se acha muito bom, muito importante) e diminuição da necessidade de sono, necessitando apenas de três ou quatro horas para ficar bem disposto. “O humor pode ser tanto grandioso, ou seja, o paciente fica muito feliz rapidamente e, diante de pequenas frustrações, se torna extremamente irritado, com ataques de raiva”.
O psiquiatra destaca que a irritabilidade também pode ser um sinal que envolve o temperamento da criança ou algo relacionado ao seu próprio desenvolvimento, já que a capacidade de controlar as emoções e de regular os desejos vai sendo desenvolvida com o tempo. “No entanto, é preciso ficar atento, já que isso pode fazer parte de um quadro psiquiátrico, principalmente se compromete a qualidade de vida do jovem. É importante avaliar também a frequência desses episódios de crise”.
Os limites estabelecidos pelos pais também fazem toda a diferença. Quando esse jovem tem pouca experiência em lidar com a não realização das expectativas, vai ter mais dificuldade ao se deparar com as frustrações no futuro. “Pais negligentes ou que são muito abusivos também tem forte impacto na qualidade emocional dos filhos. A negligência, por exemplo, envolve situações de desatenção, ou seja, de falta de atendimento às necessidades emocionais ou físicas da criança. Já o abuso, está relacionado aos estímulos emocionais nocivos, de agressividade, por exemplo”.
O diagnóstico de transtorno de humor bipolar é clínico, após a avaliação da história do desenvolvimento da criança. Em algumas situações, o médico também pede testes padronizados para complementar a avaliação clínica. “Trata-se de um problema crônico, que certamente causa prejuízo importante na vida. Quanto mais precoce for a detecção, menor serão os danos, que acabam se acumulando ao longo do tempo.
A terapia de forma isolada, sem medicamentos, não resolve. “É fundamental tomar o remédio para conseguir estabilizar o humor”, ressalta Polanczyk. A medicação é clássica e varia conforme o nível dos sintomas. Quando a doença existe em intensidade mais leve, em que o jovem consegue se controlar diante das pessoas que não são da sua convivência é um bom sinal. De qualquer maneira, é importante procurar ajuda médica e psicológica o quanto antes.