Enoleitores,
Sendo esta uma localidade tão complexa, o mais simples de entender neste universo são as uvas originárias deste local. As mais importantes são a branca chardonnay e a tinta pinot noir, embora não sejam as únicas. Ali crescem também a branca aligoté, uma uva de gosto mais sútil, alta acidez, muito plantada para ser utilizada no Crémant de Bourgogne, um espumante que costuma ser muito bom e produzido como um champanhe, ou até mesmo como varietal para acompanhar uma entrada ou peixe, e também serve- se muito o coquetel Kir, a mistura do aligoté com creme de cassis, e ainda o kir royale aonde o creme de cassis se une ao Crémant. Outra uva originária destas terras é a gamay, uma tinta frutada, originando vinhos mais simples e para beber mais novos, típica da sub-região de Beaujolais.
As castas chardonnay e pinot noir são nativas da Borgonha, mas crescem e geram bons vinhos em diversas partes do mundo, porém é neste terroir que eles melhor se expressam e atingem seu apogeu.
Outra peculiaridade é que quando falamos num Borgonha branco, nos referimos a um varietal de chardonnay, seja de qual sub-região for. E o tinto se refere ao pinot noir, portanto, ali são vinificados sempre um só tipo de uva, podendo ser de mais de um vinhedo.
O corte se resume ao Crémant de Bourgogne , que pela legislação devem ser feitos pelo método tradicional (champenoise), e 30% da mistura deve ser formada por pinot noir, chardonnay, pinot gris, podendo- se somar pinot blanc, aligoté ou outras. Em alguns bistrôs mais simples, encontra-se o vinho de mesa bebido no cotidiano , o “passe-tout-grains”, estes são borgonhas baratos e toscos, produzidos de um corte da pinot noir e gamay, de pouca qualidade.
Precisamos conhecer a classificação, por isso, vou insistir neste aspecto, pois o mínimo é conseguirmos entender o rótulo para poder escolher bem :
Bourgogne rouge / Bourgogne blanc – os borgonhas tinto e os brancos são os simples, básicos, regionais , costumam ser um “corte de uvas da mesma variedade” , ou seja , de diversos vinhedos e de qualquer local da Borgonha.
Vin de village – é o vinho de aldeia , este começa a ficar interessante , como diz o nome, é aquele elaborado por uvas plantadas ali ao redor das aldeias ou vilas , é um pouco melhor de qualidade , pois as uvas vem de um local melhor e mais definido , também custa um pouco mais.
Premier Cru – é o menor e melhor local definido dentro de todo o vinhedo . Essa nomeação vem desde 1861 e há 562 vinhedos nesta classificação . O nome do vinhedo aparecerá no rótulo após o nome da aldeia , como Gevrey Chambertin 1er Cru “Les Champeaux 2015”, a aldeia é Gevrey – Chambertin e o vinhedo chama- se Les Champeaux . São vinhos ótimos e mais caros.
Grand Cru – é a mais elevada designação que um Borgonha pode receber, esta classificação se refere aos vinhos mais elegantes , apreciados e desejados do mundo , também os mais caros . São apenas 33 vinhedos com esta classificação, estes são tão famosos que seus nomes aparecem sozinhos no rótulo , como Le Chambertin Grand Cru ou Grand – Echézeaux Grand Cru.
A questão de propriedade aqui – Domaine – é diferente da nossa , significa um conjunto de vinhedos de um dono ou família , pois desde a época dos monges os vinhedos são definidos pelo terroir e não pelo proprietário, porisso muitos vinhedos da Borgonha, inclusive os menores costumam ter mais que um dono; já os que possuem as cotas todas do vinhedo, recebem o nome de monopoles. Há muitos viticultores que tem diversas parcelas de vinhedos na mesma aldeia , e produzem diversos vinhos em pequenas parcelas , e muitas pessoas não entendem porque não juntam tudo e vinificam um tipo só, reduzindo despesas, trabalho e problemas , como acontece na maioria dos países.
Concluindo, no processo de vinificação, entra o espírito da cultura da região , ou seja, o importante para o vinicultor é que seu vinho expresse o terroir de onde ele veio, uma questão de filosofia , de honrar a terra que lhe deu aquele fruto!
Enoabraços e uma ótima semana a todos!