chr39Não é preciso passar fome para ser solidário com quem não tem o que comerchr39, diz Boulos
12/05/2018Pré-candidato a presidente do Brasil pelo PSOL, o professor de Filosofia Guilherme Boulos vê nesta campanha eleitoral a grande oportunidade de quebrar preconceitos e discutir duas grandes questões nacionais: a mudança do sistema político e o combate às desigualdades.
“Existe um verdadeiro abismo entre Brasília e o Brasil de verdade. Esse sistema político está falido, virou um balcão de negócios. Parece o Big Brother: as pessoas votam para decidir quem entra e quem sai da casa, mas não decidem nada do que acontece dentro da casa”, afirma. “Muda-se isso aproximando o poder das pessoas, chamando o povo a participar, através de plebiscito, referendos. Democracia não é só apertar um botão a cada quatro anos”, completa Boulos, em visita ao Jornal da Orla, na sexta-feira (11).
Justiça tributária
Boulos acredita que a desigualdade só será combatida com uma reforma tributária progressiva. “Hoje, quem sustenta o Estado brasileiro é a classe média e os mais pobres, é o Robin Hood ao contrário. Bancos e super ricos devem pagar imposto para sustentar o investimento social do país”.
Fim do balcão de negócios
Boulos diz ser fundamental fazer uma ampla reforma política. “Um dos erros do PT foi não ter feito, tinha condições para isso”, diz. “Nossa proposta é fazer um enfrentamento que ninguém fez. O MDB nunca elegeu um presidente, mas chantageou todos os governos. Nosso objetivo é, pela primeira vez nestes 30 anos, botar o MDB na oposição. Queremos fazer uma aliança com a maioria do povo brasileiro, e não o toma-lá-dá-cá. O presidencialismo de coalização virou um balcão de negócios”.
Cortar privilégios, não direitos
Boulos afirma que a reforma da Previdência Social precisa de uma reforma, “mas não essa defendida pelo governo Temer”. “Ela acaba com direitos, mas não acaba com privilégios. A questão de idade mínima, por exemplo: as pessoas iam morrer antes de se aposentar”.
Ele defende mudanças nas aposentadorias especiais, como de militares e do Poder Judiciário. “A cúpula do Judiciário, além de aposentadoria especial, tem auxílio-moradia, auxílio-toga, auxílio de tudo quanto é tipo”, explica. Boulos acrescenta que é preciso cobrar as dívidas das grandes empresas com a Previdência. “Devem R$ 450 bilhões e, em vez de cobrar, o governo faz Refis, para dar mais 20 anos para pagar, sem juros, porque estas empresas financiaram campanhas eleitorais”.
Mais casas sem gente do que gente sem casa
Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos rebate as tentativas de criminalizar os movimentos sociais. “Há uma inversão de valores. Entrei no MTST para que outras pessoas pudessem ter as oportunidades que eu tive. O nome disso não é oportunismo, é solidariedade. É se colocar no lugar das pessoas, sentir a dor delas. Você não precisa ter sentido fome para lutar contra a fome, não precisa morar na rua para lutar por que não tem teto”, argumenta Boulos, que é filho do médico Marcos Boulos, professor da USP e um dos maiores infectologista do Brasil.
Para Guilherme Boulos, falta informação e solidariedade à boa parte da sociedade brasileira. “Temos que entender o que faz alguém ocupar uma terra ou um prédio abandonado. É muito fácil dizer que é vagabundo, que quer levar vantagem… Milhões de brasileiros todo mês têm que fazer a dura escolha entre pagar aluguel ou por comida na mesa. Não são monstros, terroristas ou criminosos que ocupam, são pessoas que estão lutando por um direito social básico”, afirma.
Boulos considera o problema da moradia no Brasil gravíssimo. “Há mais casa sem gente do que gente sem casa. São 6,3 milhões de famílias sem casa e 7,9 milhões de imóveis abandonados. Não é a casa de praia, a casa que se tem para alugar. É abandonado, mesmo, vazio”, revela. “Um imóvel assim está ilegal, a Constituição diz que a propriedade tem que cumprir uma função social. Queremos dialogar desta maneira com o povo brasileiro”.
Solidariedade
“As pessoas têm dificuldade de se solidarizar, é um sinal do mundo em que estamos vivendo hoje, um mundo cão. Não vai ter renovação na política do Brasil se não houver solidariedade. Não vamos resolver os grandes problemas do país se a gente não se colocar no lugar das pessoas que mais sofrem”.