Simplesmente Vinho

Felipe Toso vinificando no deserto do Atacama!

28/04/2018

Enoleitores,
Durante a apresentação do Guia Descorchados 2018 em São Paulo me chamou a atenção os vinhos do renomado chileno Felipe Toso, enólogo chefe da Viña Ventisquero, que está produzindo vinhos em solos vulcânicos no deserto do Atacama (mais precisamente em Huasco), e que tive a oportunidade de conhecer e degustar neste evento.

Durante uma rápida entrevista, o enólogo me contou que Tara é um pequeno projeto iniciado em 2007, e a primeira safra de Tara branco saiu em 2011. As videiras estão plantadas numa pequena área próxima à costa, que significa um deserto de clima frio, pouco comum, onde os solos são salgados, pedregosos e mineral, isto é, muito calcário.

O estilo de vinificação é bem natural. O vinho não é filtrado nem são usados leveduras ou sulfitos. Todo o processo é artesanal, ou seja, tudo feito à mão, até o engarrafamento.

O vinho branco, da uva chardonnay, é prensado pelos pés (pisa a pé) depois fica dois anos em barricas de aço inox com todas as suas borras (sour lies), o que não é nada convencional e o torna bem mineral e, ao mesmo tempo, distinto de um chardonnay tradicional. São produzidas apenas 4 mil garrafas.

Toso refere-se a este processo como um tipo de vinificação feito com técnica muito antiga e, ao mesmo tempo, muito moderno! Dentre os tintos, citou o pinot noir (um vinho interessante) e o syrah, também em solos da costa — todos com baixa graduação alcoólica (12,5o), mas com uma boa acidez (Ph baixo), tornando-se vinhos de boa intensidade. Ele descansa durante três anos, sendo dois em barricas e mais um na garrafa.

Espero que tenham gostado de conhecer este processo de vinificação. Vou acrescentar a minha opinião sobre os dois vinhos desta linha que degustei:

Tara White Wine 1 Chardonnay 2016- Apresentava uma cor amarelo turva, opaco, sem transparência , exalava aroma bem mineral, frutas brancas e hortelã ( o primeiro chardonnay que senti esta erva); na boca seco , fresco, sápido , estruturado e longo deixando um mineral no sabor. 

Tara Red Wine 1 Pinot Noir 2016- Mostrava uma coloração vermelho rubi granada, brilho, certa transparência; no olfativo, percebi frutas vermelhas, terra molhada e especiarias, como pimenta do reino; no gustativo, seco, boa acidez, taninos finos e macios, embora ainda imaturos, longo, deixando um sabor de fruta vermelha madura no final de boca.

Consultando o Guia, descobri que o branco recebeu 95 pontos e o tinto 94, — boas surpresas, que pude descobrir e apreciar na feira , deixo como sugestão para quem os encontrar , pois vale a pena conhecer a personalidade própria nascida e expressa daquele terroir, através destes vinhos. 

Enoabraços e uma ótima semana a todos!