Enoleitores,
Ano passado tive a oportunidade de experimentar um vinho de sobremesa chamado Château Gilette Crème de Tête 1989, da região de Sauternès, em Bordeaux (França). Até hoje, quando me recordo, minha boca se enche de água e minha memória agradece por haver conhecido este vinho, que só foi possível por ter sido servido em uma reunião familiar, trazido na mala de um apaixonado por vinhos franceses.
Fui pesquisar e descobri que a história deste chateau (vinícola) remonta a 1710, quando duas famílias tradicionais de Sauternès se uniram, através de um casamento: Numa Medeville casou-se com Marie Despujols, filha do produtor Lamothe Despujols, e recebeu como presente de casamento as vinhas, o Chateau Gilette e o Chateau Les Justices. A propriedade permaneceu na família Medeville por várias gerações, que produziam um vinho como a maioria dos outros produtores da região, até terminar a Segunda Guerra Mundial. Quando voltou da guerra, Rene Medeville descobriu que ainda havia vinho em seus tanques de cimento, deixado desde a década de 1930. Ao prová-lo, o produtor se encantou com o resultado e decidiu reformular todo o seu esquema de produção, passando a envelhecer seus vinhos entre 20 e 25 anos, antes de enviá-los ao mercado.
As vinhas localizam-se no município de Preignac e produzem as uvas das castas semillon (85%), sauvignon blanc (10%) e muscadelle (5%) – estas, após a colheita, são armazenadas em pequenos tanques de cimento com capacidade entre 20 a 40 hectolitros, onde fermentam e são mantidos envelhecendo por até 25 anos após a vindima (colheita), até ser engarrafado. Outra diferença é que não passam por madeira, permanecem por mais três a cinco anos descansando, engarrafado, antes de ir ao mercado.
Além de todo este cuidado com a produção, este só é produzido em algumas vindimas pré-selecionadas (nenhum vinho foi feito em 1991,1992,1993, 1994 e 1995). As melhores safras são os produzidos em 1959, 1967, 1971, 1975, 1976, 1983, 1986, 1988, 1989 e 1990.
Atualmente, esta casa é cuidada por Julie Gonet Medeville, casada com Xavier Gonet, da família da Gonet Champagne.
Agora que já sabemos de sua história, vale descrever o vinho, que torna-se melhor se servido na temperatura de vinho de adega (em torno de 14ºC), pois assim pode-se sentir seu frescor elevado e sua complexidade aromática. Aquele que tomamos, para acompanhar uma sobremesa, apresentava uma coloração amarelo dourada, brilhante; exalava aromas de frutas brancas, como pêssego, damasco, frutas secas, especiarias e muito mel; na boca, boa acidez, fresco, longo, deixando o sabor doce do mel. O que percebi foi que a untuosidade e os aromas provenientes da baunilha, presentes nos outros sauternes, neste não aparecem, por não estagiar em madeira.
Este vinho vai muito bem com entradas como fígado de ganso ou pato e sobremesas a base de creme, laranja e damasco. Se tiverem oportunidade, principalmente passeando pela França, que o torna mais acessível, vale experimentar…
Enoabraços e uma ótima semana a todos!