Simplesmente Vinho

Desmistificando o Beaujolais

06/08/2016
Enoleitores,
Na semana passada, tivemos uma rica oportunidade de participar da apresentação dos vinhos de Beaujolais, em evento organizado pela ABS Litoral Paulista, em parceria com a EOC Internacional, na Piccola Forneria.
 
Aprendemos que esta é uma região superantiga; no século 13, “os senhores de Beaujeu”, localizada ao norte de Lyon, marcaram a história da França, quando a capital histórica do vinhedo legou seu nome ao Beaujolais. Beaujeu é considerada, até os dias de hoje, a capital histórica da região, mas atualmente a capital de fato, e base econômica da localidade, é a cidade de Villefranche-sur-saône.
 
A região se estende numa vasta zona que vai do sul de Mâcon, na Borgonha, até o norte de Lyon. Possui uma área de quase 17 mil hectares de vinhedos, onde a casta gamay reina absoluta – embora encontre-se também uma pequena porcentagem de chardonnay. 
 
Uma gamay é uva tinta que apresenta um cacho redondo e compacto, originando-se do cruzamento das castas gouais blanc e pinot noir. Esta espécie é capaz de produzir um vinho muito elegante na sua juventude e pode envelhecer com bom potencial de guarda. Resulta em um vinho moderno, com teor alcoólico não muito elevado, frutado e macio. A casta amadurece cedo, produzindo vinhos de cor vermelho vivo (muitas vezes límpidos); muito aromáticos, com perfume de frutas vermelhas, toque floral e especiados. Esta uva tem se expandido pelo globo, encontrando-se em alguns países do Velho Mundo, mas principalmente no Novo Mundo, como Austrália , África do Sul, Canadá, USA, Patagônia e até no Brasil. Também são produzidos vinhos brancos e rosés, elaborados com uvas gamay e  chardonnay. 
 
São 12 as AOC (“Appellations d’Origine Contrôlée régionales”), na maioria situadas na parte sul dos vinhedos, onde se produz o Beaujolais e Beaujolais Village. Há também as “Appellations d’Origine Contrôlée communales”, ligadas ao vilarejo, que geralmente se situam mais ao norte da região. Lá, são produzidos os 10 Crus de Beaujolais, vinhos que se revelaram muito bons (falarei sobre eles numa próxima vez).
 
Os Beaujolais tintos são vinhos que podem ser bebidos durante todo o ano e em todas as ocasiões, para aproveitar sua potência aromática bem presente, principalmente o frutado e o floral. Já os Beaujolais Villages tintos se revelam mais harmoniosos, francos e estruturados que os primeiros, com aromas expressivos de frutas vermelhas. Têm um potencial de guarda.
 
Devemos lembrar também dos Beaujolais e Beaujolais Villages rosés, vinhos intensos, frutados e perfumados, que oferecem suavidade, frescor e maciez na boca. Além os Beaujolais brancos e Beaujolais Villages brancos , que apresentam aromas sutis de frutas frescas, notas cítricas e flores brancas. No paladar, mostram seu frescor e elegância – às vezes com toque de baunilha, dependendo da vinificação.
 
No Brasil, temos um grande preconceito ligado ao consumo destes vinhos. Penso que o motivo é que só chegavam os vinhos mais simples da região, como o Beaujolais Nouveau. Oriundo das AOC Beaujolais e Beaujolais Villages, ele é, ao meu ver, uma questão de marketing, ligada a uma grande festa popular, já que é o primeiro vinho que surge da vinificação daquela safra, todos os anos. É por isso que precisamos aprender a diferenciar os diversos tipos de vinhos elaborados na região.
 
Enoabraços e uma ótima semana a todos!