Fronteiras da Ciência

Vontade de gritar

24/11/2023
Depositphotos

Quem pode avaliar o esforço de uma mãe, criando os filhos sozinha? Seja por viuvez, separação do casal ou abandono puro e simples, ela está só.

Precisa trabalhar para prover o sustento e tudo que se faça necessário no lar. Ao mesmo tempo, não pode desconsiderar a necessidade de sua presença junto aos pequenos, dar-lhes afeto, atenção.

Um dia de 24 horas é pouco para tudo.

Pensar na necessidade de um calçado novo, uma blusa para o uniforme, um vestido para a apresentação musical da próxima semana.

Os dias transcorrem numa verdadeira maratona. Por vezes, o cansaço parece dominar as forças. E não há, ao lado, um ombro com quem possa dividir as preocupações, desabafar seus temores e angústias.

Ela é o sustentáculo para todos, no lar. Não pode esmorecer.

Os filhos dependem dela e do seu aporte moral.

Por isso, naquele domingo, ao despertar, Alice levou um grande susto. Na parede branca, à sua frente, pintada, há poucas semanas, estava desenhado um enorme e trêmulo coração vermelho.

O que é isso? -Teve vontade de gritar. Lembrou quanto custara a tinta para pintar a casa toda. Pensou em quanto custaria adquirir mais uma lata para renovar a pintura daquela parede.

Então, ela viu seu menininho, de apenas 3 anos, com o pincel atômico na mão. Voltou-se para ela e, sorridente, perguntou:

Gostou, mamãe? As manas me disseram que você ia “adolar”!

De repente, como num flash, ela se deu conta. Era Dia das Mães.

Nesse mês, pelo acúmulo de contas a pagar, ela deixara de dar a mesada para as suas duas adolescentes.

Sabia que, todo ano, com aqueles poucos reais, elas compravam um mimo para ela, para esse dia.

Como não tivessem nada para dar à mãe, pediram ao irmão que lhe fizesse a surpresa. Imaginaram que seria um belo presente para o seu coração de mãe. Símbolo da gratidão de seus filhos.

Então, ela agradeceu por não ter gritado, por não ter reclamado.

A parede era um imenso vermelhão. Que importava? Seus filhos estavam lhe dizendo que a amavam, que reconheciam seus sacrifícios, seu esforço.

Abraçou as duas adolescentes, que adentraram no quarto, e o pequerrucho, respondendo com suprema alegria:

É claro que eu adorei!

A parede continuaria manchada por sabe-se lá quanto tempo.

Mas, para ter aqueles filhos por perto, valia a pena. E ela encararia todos os esforços necessários, faria tudo de novo e de novo.

[com base em texto de Patrícia Mendes e na Red. do Momento Espírita]