Baixada Santista

Vila Socó: OAB quer mortos na lista de desaparecidos da ditadura

26/02/2024
Divulgação/Sindipetro

com informações da Agência Brasil

A Comissão da Verdade da OAB de Cubatão (SP) quer que os nomes das vítimas do incêndio na Vila Socó sejam incluídos na lista de mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar. O pedido será oficialmente encaminhado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A decisão foi anunciada durante Ato Ecumênico no memorial às vítimas do incêndio na Vila São José, antigo nome da comunidade rebatizada após a tragédia, que aconteceu no domingo (25).

No fatídico dia 25 de fevereiro de 1984, um incêndio devastador, causado pelo vazamento de gasolina de um duto da Petrobrás, consumiu a favela, deixando cerca de 6 mil pessoas sem lar.

De acordo com relatos dos moradores, o odor de gasolina foi sentido pela comunidade desde as 11h da manhã. Mais tarde, por volta da meia-noite, a primeira explosão ocorreu, dando início a um incêndio que se alastrou rapidamente por toda a favela, composta por barracos em palafitas encharcados pelo vazamento de gasolina.

Para Dojival Vieira dos Santos, advogado e ativista, há elementos que justificam o reconhecimento das vítimas como desaparecidos políticos, considerando o contexto político da época e a classificação de Cubatão como Área de Segurança Nacional.

Ele ressalta que a tragédia poderia ter sido evitada se a prefeitura tivesse acionado a Defesa Civil a tempo de evacuar os moradores. Além disso, denuncia uma operação para impedir investigações, chamada de Operação Abafa.

“Por que que nós falamos de operação abafa? Primeiro, reduziu-se e minimizou-se para 93 um número de mortes que o próprio Ministério Público estimava entre 508 e 700. Segundo: esta redução do número de mortes também reduziu o impacto no mercado para a Petrobrás, tanto do ponto de vista nacional quanto internacional. Nós estamos falando de uma estatal gigante como é a Petrobras, e obviamente isso tem reflexos para a empresa. Depois, a garantia da impunidade dos responsáveis. Ninguém jamais foi punido”.

O ato em memória das vítimas foi organizado pela OAB de Cubatão e a Associação de Moradores da Vila São José. César da Silva Nascimento, Secretário de Governo da Prefeitura, participou, embora a gestão municipal não tenha apoiado plenamente a homenagem.

Apesar dos esforços, o memorial às vítimas enfrenta abandono e vandalismo, com a placa original furtada e vandalizada. A prefeitura considera relocar o monumento para um local mais visível.

O monumento está localizado entre a Rodovia Anchieta e a linha de trem, em um terreno baldio. A Petrobrás não participou da cerimônia e não respondeu sobre sua responsabilidade na tragédia.

Nesta segunda-feira (26), às 17h, haverá sessão solene em homenagem às vítimas no auditório da OAB (Rua São Paulo, 260, Jardim São Francisco).