Nossos mestres ensinam que há quatro níveis de interpretação no estudo da Torá. O primeiro nível, Pshat, é o significado literal do Texto Sagrado.
O segundo nível, Remez, é o significado figurativo, o ensinamento insinuado, contido em cada uma das palavras e versos dos Cinco Livros de Moisés.
O terceiro nível, Drush, é o significado interpretativo e grandiloquente – o ensinamento moral e filosófico que a Torá visa transmitir.
Por fim, o quarto nível e o mais profundo é chamado de Sod, segredo – é o significado esotérico e místico das palavras da Torá, popularmente chamado de Cabala.
O Zohar, que é a obra fundamental do misticismo judaico, assim afirma: Um estudo da Torá que não inclua seus segredos é um corpo sem alma.
Uma faceta dos níveis de interpretação da Torá é a Guemátria, ou Numerologia Judaica. Guemátria é um sistema numerológico pelo qual as letras hebraicas correspondem a números.
Este sistema, desenvolvido por praticantes da Cabala (misticismo judaico), derivou da influência grega e se tornou uma ferramenta para interpretar textos bíblicos.
Muitos trechos do Talmud citam a Numerologia Judaica como sendo um instrumento de apoio muito valioso na tomada de decisões, principalmente no que diz respeito à Lei Judaica (Halachá).
O Rabi Yossef Caro, autor do Shulchan Aruch, Código de Lei Judaica, revelou que a palavra Guemátria pode ser dividida em outras duas: Guei (vale) e Mitúria (da montanha). Rabi Yossef Caro explicou que quando temos uma dúvida sobre algo que, a princípio, não entendemos na Torá, esta nos parece ser uma “montanha”, de difícil escalada. E a Guemátria, disse o Sábio, transforma a montanha à nossa frente em um “vale” de compreensão.
Na guemátria, cada letra hebraica é representada por um número (por exemplo, aleph = 1, bet = 2, etc.).
Pode-se então calcular o valor numérico de uma palavra somando os valores de cada letra nela. No reino da interpretação bíblica, os comentaristas baseiam um argumento na equivalência numerológica de palavras.
Se o valor numérico de uma palavra é igual ao de outra palavra, um comentarista pode fazer uma conexão entre essas duas palavras e os versos em que aparecem e usar isso para provar conclusões conceituais mais amplas.
Os seguintes números são considerados simbólicos e /ou sagrados no Judaísmo:
1- Indica unidade, divindade e totalidade, conforme exemplificado por Deus.
3- Três significa perfeição e estabilidade, conforme representado pelos três Patriarcas e os três festivais de peregrinação –Pessach, Shavuot, Sucot. Este é um agrupamento de números que sinaliza o cumprimento dos planos de Deus
4- Quatro é um número recorrente nas tradições judaicas exotéricas e esotéricas. O Seder da Pessach é especialmente estruturado em torno de quatro: as Quatro Perguntas, os Quatro Filhos e quatro xícaras de vinho. Existem quatro direções cardeais e existem quatro Matriarcas. Quatro também é um fator comum nas interpretações esotéricas: quatro anjos cercam o Trono da Glória e os famosos quatro Sábios que entram no Paraíso.
5- Existem cinco livros de Moisés e cinco divisões dos Salmos. Textos mágicos / místicos também às vezes são separados em divisões de cinco. Cinco é o número da proteção, conforme simbolizado no hamsa, a mão talismânica.
7- É um dos maiores números de poder no Judaísmo, representando a Criação, boa fortuna e bênção. A palavra hebraica para sorte, gad, é igual a sete na guemátria. Outra palavra hebraica para sorte, mazal, é igual a 77.
A Bíblia está repleta de coisas agrupadas em sete. Além da Criação e do status de exaltação do Shabat, o sétimo dia, existem sete leis de Noé e sete Patriarcas e Matriarcas. Vários feriados judaicos duram sete dias, e a ordenação sacerdotal leva sete dias. A Terra de Israel foi deixada em repouso um ano em cada sete. A Menorá no Templo tem sete ramos.
Essa ênfase em sete continua pós-bíblica com sete bênçãos de casamento, sete circuitos realizados ao redor de um noivo e sete dias de luto após a morte de um parente próximo. O primeiro verso da Torá consiste em sete palavras. As paredes de Jericó caem depois que os israelitas a cercaram sete vezes.
8- É o número de conclusão. O Tabernáculo foi dedicado em uma cerimônia de oito dias. Crianças do sexo masculino são circuncidadas no oitavo dia, Chanucá é um feriado de oito dias.
10- É um símbolo de boa sorte e poder: existem 10 mandamentos. Deus requer 10 indivíduos justos em Sodoma para evitar o castigo divino e 10 homens constituem um minyan tradicional, uma comunidade espiritual.
12- Representa a totalidade, integridade e a conclusão do propósito de Deus. Existem 12 tribos de Israel, 12 meses no ano e 12 casas do zodíaco.
18- É o valor das letras hebraicas chet e yod, que juntas formam a palavra chai, vida. Por esse motivo, 18 é considerado o número mais favorável. Deus é mencionado 18 vezes no Salmo 29.
24- Simboliza abundância. No seu auge, Jerusalém já teve 24 intérpretes de sonhos que você podia consultar.
32 – É o número dos “maravilhosos caminhos da sabedoria”, o número de princípios organizadores que fundamentam o universo.
40- Aparece muitas vezes na Bíblia, geralmente designando um tempo de transição ou transformação radical. Entre os exemplos mais famosos estão estes: Choveu 40 dias e 40 noites durante o Dilúvio. Êxodo registra que Moisés passou 40 dias no Monte Sinai com Deus. Quarenta é o número de anos que os israelitas foram obrigados a vagar pelo deserto até que pudessem entrar em Canaã. Também aparece em textos místicos, geralmente como um elemento de purificação.
70- Simboliza o mundo. Existem 70 nações no mundo, 70 línguas e 70 anjos principescos. A tradução grega da Bíblia, a primeira a torná-la acessível aos gentios, foi feita por 70 estudiosos judeus, que, embora trabalhando separadamente, produziram 70 traduções idênticas.
Finalmente, é importante notar que os números ímpares são considerados auspiciosos.
Uma possível explicação é que os números pares são uma expressão da pluralidade, sendo vistos uma extensão do número dois.
A ideia de dualidade, ou duas forças, é uma noção que está em total contraste com o princípio básico do Judaísmo, a crença em um Deus.
…
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.