
Com sensibilidade e leveza, o livro Uma Vida Extraordinária narra a trajetória de Valéria Capodicasa, uma mulher de 56 anos que nasceu com um detalhe genético que mudou o rumo de sua história: um cromossomo a mais. Marcada por desafios, superações e uma força familiar admirável, a obra é tanto um testemunho pessoal quanto um convite à reflexão sobre inclusão, amor e resistência.
A ideia de registrar essa trajetória surgiu de seu pai, Domênico, que mesmo doente ensinou Valéria a usar o computador. Foi ele quem plantou a semente do livro, e ela abraçou o projeto como forma de continuar o sonho do pai. “Escrevi todas as poesias e os rascunhos com a ajuda dele. Fiquei extremamente animada e emocionada em dar continuidade a um projeto que ele começou. É uma forma de registrar não só a minha história, mas a da minha família também”, conta Valéria.
Mais do que relatar fatos, Valéria tem como objetivo inspirar — principalmente mães de crianças com deficiência. “Conseguimos fazer tudo o que as outras pessoas fazem. Do nosso jeitinho, no nosso tempo, com nossos limites, mas conseguimos”, afirma. O livro é um espelho de sua visão de mundo, construída a partir das experiências que enfrentou desde o nascimento, quando o diagnóstico da Síndrome de Down abalou profundamente seus pais.
INFORMAÇÃO
Na época, a ausência de informação era um dos maiores obstáculos. Ao nascer e não chorar, Valéria despertou preocupação imediata na equipe médica. O pediatra suspeitou de ‘mongolismo’ – termo utilizado na época para se referir à síndrome. A confirmação veio após exames, e a reação dos pais foi de dor e confusão. Domênico, um homem culto e reservado, se calou diante da notícia. Já Claudia, a mãe, reagiu com luta e determinação. “O diagnóstico da Valéria foi um grande choque. A gente não tinha nenhuma informação sobre a síndrome. Foi muito difícil no início”, relembra.
Mesmo sem recursos, Claudia buscou incansavelmente o melhor tratamento para a filha. “Eu lutei com todas as forças para que ela tivesse os melhores cuidados, mesmo sem dinheiro, mesmo sem apoio. A única certeza que eu tinha era que ela merecia ser feliz”, diz com emoção.
Valéria enfrentou também a exclusão no ambiente escolar. Foi rejeitada por várias instituições, inclusive por uma escola de freiras na capital paulista. Claudia, mais uma vez, moveu mundos para garantir a educação da filha, buscando alternativas mais inclusivas, enfrentando preconceitos e dificuldades financeiras.
Apesar dos obstáculos, Valéria encontrou nas artes uma forma potente de expressão. Pintura, cerâmica, jazz, balé clássico — ela se aventurou em várias linguagens criativas. Além disso, escreveu poesias inspiradas em suas experiências, que foram incluídas no livro ao lado de relatos tocantes da mãe, que também é uma protagonista dessa história de amor e superação.
BIOGRAFIA
Uma Vida Extraordinária é mais do que a biografia de Valéria. É o retrato de uma família que desafiou o preconceito e a ignorância para construir um caminho de afeto e inclusão. É também um alerta sobre a importância de ambientes escolares acolhedores e do acesso à informação sobre deficiências.
Com a venda do livro, Valéria decidiu doar os lucros à APAE de Praia Grande, instituição que oferece apoio a pessoas com deficiência. “Quero ajudar outras famílias, como a minha foi ajudada. Minha história pode ser um exemplo para outras pessoas. Quero mostrar que é possível vencer, mesmo com tantas dificuldades”, afirma.
Embora ainda esteja decidindo os próximos passos, Valéria está profundamente envolvida com o projeto do livro, que se tornou um marco em sua vida. “Escrever foi um grande aprendizado. Quando se coloca o coração em algo, tudo dá certo. Tenho a ideia de um segundo livro com outras histórias do meu diário, mas isso é em um futuro distante. Quero aproveitar esse [livro] que está maravilhoso”.
Uma Vida Extraordinária é, acima de tudo, uma celebração da vida, da coragem e do amor incondicional. Um livro que emociona, educa e inspira — não apenas quem vive a realidade da deficiência, mas todos que acreditam na força das conexões humanas.
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