Um desenvolvimento notável nos tempos hasmoneus (dinastia da antiga Judéia, descendentes da família Macabeu) foi o surgimento de seitas religiosas identificáveis. O termo “seita” requer algum esclarecimento.
Grupos, como os fariseus e saduceus e outros (Essênios e Zelotes) operavam em Jerusalém e na sociedade judaica mais ampla e não se opunham a priori ao estabelecimento religioso. O termo “seita” não é, portanto, o mais apropriado para o contexto histórico. No entanto, é mantido por conveniência, uma vez que é usado universalmente com referência a esses grupos.
O sectarismo religioso era uma ocorrência incomum no judaísmo antigo. Nem antes do II século AEC, nem depois de 70 EC, existia entre os judeus qualquer menção de seitas organizadas e, portanto, a situação que primeiro se cristalizou foi, de fato, sui generis.
As circunstâncias históricas de meados do século II parecem ter sido as mais propícias para a geração de tais grupos. Este foi realmente um tempo de transição e agitação. A sociedade judaica vinha lidando há décadas com a atratividade, por um lado e a ameaça, por outro, em relação ao helenismo, um processo que culminou na transformação de Jerusalém em uma polis (cidade- Estado).
A mais importante das seitas foi a dos fariseus, porque são os pais espirituais do judaísmo moderno. Sua principal característica distintiva era a crença em uma Lei Oral que Deus deu a Moisés no Sinai junto com a Torá. A Torá, ou Lei Escrita, estabeleceria uma série de leis que estavam abertas à interpretação. Os fariseus acreditavam que Deus também deu a Moisés o conhecimento do que essas leis significavam e como deveriam ser aplicadas. Essa tradição oral foi codificada e escrita cerca de três séculos depois no que é conhecido como o Talmude.
Os fariseus também sustentavam que existia uma vida após a morte e que Deus punia os ímpios e recompensava os justos no mundo vindouro. Eles também acreditavam em um Messias que anunciaria uma era de paz mundial.
Os fariseus eram, em certo sentido, judeus operários que aderiram aos princípios desenvolvidos após a destruição do Templo; isto é, coisas como oração individual e assembleia nas sinagogas.
A realidade é que o grande conceito no coração do judaísmo farisaico – a Lei Oral – permitiu que os fariseus tivessem ampla latitude na interpretação da lei judaica e das Escrituras hebraicas.
O conceito de uma Lei Oral dada a Moisés, em adição à Lei Escrita, deu aos fariseus a habilidade de transcender um literalismo que poderia ser incapacitante em qualquer tentativa de interpretar a lei judaica.
A ideia de uma Lei Oral deu-lhes autoridade para interpretar as Escrituras hebraicas de forma mais criativa do que seus oponentes literalistas, os sacerdotes e aristocratas saduceus. Por exemplo, os fariseus não interpretavam literalmente o conceito bíblico de “olho por olho”. Em vez disso, usando a Lei Oral como um dispositivo para interpretar as Escrituras Hebraicas, os fariseus interpretaram esse comando como exigindo uma compensação monetária pelo dano, em vez do significado literal do texto.
Este é um caso em muitos em que a interpretação farisaica revela compaixão e latitude na compreensão da lei judaica. A Lei Oral é o fundamento do judaísmo rabínico e concedeu aos rabinos a autoridade para alcançar alturas de grande criatividade na interpretação da lei judaica.
Os saduceus eram elitistas que queriam manter a casta sacerdotal, mas também eram liberais em sua disposição de incorporar o helenismo em suas vidas, algo que os fariseus se opunham.
Os saduceus rejeitaram a ideia da Lei Oral e insistiram na interpretação literal da Lei Escrita; consequentemente, eles não acreditavam em vida após a morte, uma vez que não é mencionado na Torá. O foco da vida dos saduceus eram os rituais associados ao Templo.
Esses dois “partidos” serviam no Sahnedrim (o Grande Sinédrio), uma espécie de Suprema Corte judaica composta por 71 membros cuja responsabilidade era interpretar as leis civis e religiosas.
Os saduceus desapareceram por volta de 70 DEC, após a destruição do Segundo Templo. Nenhum dos escritos dos saduceus sobreviveu, então o pouco que sabemos sobre eles vem de seus oponentes farisaicos. Os saduceus, como grupo, efetivamente, deixaram de existir após a destruição de Jerusalém, mas o legado dos fariseus sobreviveu.
De fato, os fariseus foram os responsáveis pela compilação da Mishná, importante documento referente à continuação do judaísmo, após da destruição do Templo. Dessa forma, os fariseus lançaram as bases para o judaísmo rabínico moderno.
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