
Ao completar 65 anos em 2025, a maior favela de palafitas da América Latina entra em uma nova realidade. A Prefeitura de Santos deve entregar até junho de 2026 a primeira fase de um projeto-piloto que prevê a construção de 60 unidades habitacionais no Dique Vila Gilda. A abrangência é de 1 mil metros quadrados dentro da comunidade e, nesta primeira etapa, cerca de 200 moradores serão contemplados.
O poder público pretende criar uma nova forma de ocupação nessas áreas, que são originalmente de mangues, promovendo, além do bem-estar, a recuperação ambiental.
Nesta fase estão sendo cravadas estacas pré-fabricadas de concreto para as obras de fundação e construção da superestrutura do projeto. Na sequência, acontece a construção das moradias em estruturas modulares. Serão assentados sobre as estacas os blocos de fundação e as vigas que suportarão as lajes de apoio. Sobre elas serão assentados seis conjuntos habitacionais, sendo quatro de apartamentos (totalizando 44 unidades) e dois de casas, cada um com oito residências térreas.
Localizado na Zona Noroeste, o Dique da Vila Gilda está localizado às margens do Rio dos Bugres e reúne comunidades como o Caminho da Divisa, Última Ponte, Dali Capela, Caminho São José e Caminho São Sebastião. São mais de seis mil famílias, aproximadamente 20 mil pessoas, que convivem em habitações sustentadas por estacas ou troncos cravados na margem do rio, poluído com lixo e esgoto, o que atrai ratos e baratas.
Além dos problemas de saúde, os moradores estão sujeitos à elevação da maré e aos fortes ventos, que podem afetar a estrutura das casas. Tábuas soltas e escorregadias oferecem risco de acidentes, e há o temor constante de incêndios, em razão do grande número de materiais de fácil combustão em toda a área.
Metodologia é semelhante à de terminais portuários
A metodologia para as edificações é semelhante à utilizada na construção de terminais portuários, sempre com o viés sustentável e social, com soluções construtivas mais simples e rápidas. O projeto contém iluminação pública e saneamento básico. Os prédios comerciais e institucionais terão energia solar. Haverá espaços para lazer e comércio, além de equipamentos públicos, parques e áreas para regeneração do mangue.
Dois dos prédios terão 16 apartamentos, distribuídos no térreo e no 1º pavimento. No outro serão 12 unidades dispostas no térreo e em dois andares. Já o último tem 16 habitações divididas entre o térreo e três pavimentos. Serão quatro apartamentos por andar, cada um com 49,30 m² de área privativa. As 16 casas terão, cada uma, 48,06 m² de área construída e testada de 5,75 m², dotadas de sala de estar e jantar integrados, cozinha, área de serviço, dois quartos, banheiro e varanda dos fundos.
De acordo com o prefeito Rogério Santos, a fixação dessas pessoas na área garante não somente a dignidade, como mantém o vínculo com o local, ou seja, resulta numa estratégia de controle contra novas ocupações irregulares.
Trabalho em Belém já contemplou 122 famílias
Uma ideia similar à que está sendo aplicada em Santos se tornou realidade na região norte do Brasil, embora já pudesse estar concluída. A Vila da Barca, no bairro Telégrafo, em Belém (PA), é uma das maiores comunidades em palafitas da América Latina, com mais de sete mil moradores. Está localizada no centro da capital paraense e tem mais de um século de existência. A comunidade fica próxima ao bairro Umarizal, um dos mais nobres da cidade, onde apartamentos podem custar mais de R$ 1 milhão. A Prefeitura de Belém possui um projeto de habitação para a área, que teve início em 2003 e prevê a construção de unidades habitacionais, além de obras de saneamento, construção de reservatório de água, praças, museu, cooperativa, centro cultural, feira/mercado, quadra poliesportiva e orla panorâmica. Os apartamentos contam com dois quartos, área externa com pia, cozinha e sala. Alguns têm áreas para comércio.
A intenção é acabar com as palafitas e construir um conjunto habitacional com casas de alvenaria no local. As obras ficaram paradas por mais de 17 anos e foram retomadas recentemente. Estava prevista a construção de 406 unidades habitacionais, mas, até dezembro de 2024, foram entregues 122.
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