Pelé é um ídolo mundial mas são os santistas (de time, de nascimento ou de coração) que sentiram com mais intensidade o encantamento pelo Rei do Futebol.
Não só por testemunharem com os próprios olhos, das arquibancadas ou grudados no alambrado, as proezas com a bola no gramado de Vila Belmiro. Mas também por, fora do estádio de futebol, conviverem com o carisma, a alegria, simpatia e generosidade de Pelé.
Praticamente todos os santistas (de time, nascimento ou de coração) têm uma boa história com Pelé para contar.
Os mais velhos recordam de Pelé dirigindo seu Mercedes placa 1000 pela avenida da praia, ou, antes até, saindo da pensão no bairro do José Menino para pegar o bonde que o levaria ao treino na Vila Belmiro.
Ou saindo da faculdade de Dona Rosinha Viegas, onde cursou educação física.
Ou indo visitar a então namorada Rose, que morava numa casa na esquina do Canal 5 com a rua Alfaia Rodrigues. Vizinhos da casa onde o Rei do Futebol morava no canal 7 recordam como se fosse hoje de encontrarem com Pelé na padaria indo comprar pão com uma jovem loira —Xuxa, entende?
Era como ganhar na loteria ir à barbearia de Didi, pertinho do estádio Urbano Caldeira, e ver sentado na cadeira o atleta mundialmente famoso retocar o inconfundível topete. Ou saborear um peixe ou fruto do mar no restaurante Porta do Sol e ver, no fundo do salão, uma mesa onde o Rei almoçava, conversando animadamente com Paquito. As visitas de Pelé ao ateliê do alfaiate Silvio, na Rua Saturnino de Brito, alteravam a rotina do pacato bairro do Marapé.
A agenda internacional de Pelé era extremamente atribulada; visita ao Papa no Vaticano, evento com Mike Tyson em Moscou, homenagem no Japão, gravação de comercial em Nova York, desfile de moda em Paris, entrega do troféu para o campeão do torneio de tênis em Wimbledon, bandeirada de chegada da corrida de Fórmula 1 em Mônaco… Mas, sempre que estava em Santos, fazia questão de passar na padaria do Carlinhos, na esquina do canal 5 com a avenida Epitácio Pessoa, para rever outros campeões do Santos, jogadores em atividade e outros fregueses do lugar. Também fazia parte de seu roteiro na cidade visitar a mãe, Celeste, a Vila Belmiro, o amigo Pepe Alstut (empresário, falecido em 2021, que concebeu o cemitério vertical onde o corpo de Pelé está guardado) e tomar um mate gelado no carrinho do ambulante Paraná (falecido em 2010) — que invariavelmente reclamava que o Rei “ia embora sem pagar”.
Em todas as aparições de Pelé (sim, pois encontrar com uma lenda vida nas ruas de cidade era um acontecimento literalmente divino), estavam presentes a simplicidade, simpatia e generosidade do Rei do Futebol. Atendia todos com paciência e educação. Distribuía sorrisos, abraços, autógrafos e, em muitas ocasiões, até camisas com sua assinatura inconfundível. Uma poderosa palavra com quatro letras, sendo na última o acento agudo em formato de bola.
Na tinta dos autógrafos ou na memória dos santistas (de time, de nascimento ou de coração), Pelé eterno.