Política

Tio Patinhas Haddad, Gastão Lula e o “austericídio”

04/01/2024
Ricardo Stuckert/Presidência da República

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem o discurso da austeridade. Pelo menos até a página 3. Colocou uma cenoura na frente do focinho do mercado: a meta de déficit zero no orçamento do governo federal para 2024.

O presidente Lula gosta mais da gastança. Em vez de imitar a Dilma e multiplicar ou dividir a meta (que, aliás, presidenta, multiplicada ou dividida por qualquer fator continuaria zero), deu uma míni-facada nas costas do ministro: “Se for necessário fazer endividamento para o país crescer, qual o problema?”.

A divergência ganhou um tempero novo no final do ano com uma palavra nova: austericídio”. Palavras novas quase sempre são interessantes. Essa, de maneira especial: traduz o medo de ser austero e perder eleição. Veio no fogo amigo do PT, partido do governo, criticando o governo em nota oficial. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, diz que a crítica é saudável.

O que está longe de ser saudável é o medo que o neologismo austericídio traduz. Medo positivo deveria ser, no caso do PT, o de repetir o modelo de gestão não-sustentável da economia de 2003 a 2013, que levou o país à crise de 2014, último ano de Dilma.

Melhor perder eleição e deixar o país na direção certa do que ganhar e deixar como legado uma crise.

Esse é o raciocínio do estadista, que pensa nas próximas gerações. O político do austericídio pensa só nas próximas eleições.