Livros e mais livros

Tinha uma pedra no meu caminho

17/01/2024
Tinha uma pedra no meu caminho | Jornal da Orla

O padre dos pobres 

A cidade de São Paulo atravessa uma forte crise humanitária: mais de 50 mil pessoas vivem em situação de rua sem o devido amparo estatal e expostas a todo tipo de intempérie. As causas desse imenso contingente estão centralmente relacionadas a conflitos familiares gerados pela falta de trabalho e renda. Em meio a esse caos existe um padre que há décadas celebra a missa todos os dias às 7hs. para, em seguida, empurrar seu carrinho com doações até o centro de convivência e ali dar alimento a quem mais precisa.

“Nem anjos nem demônios, são pessoas que perderam tudo, que não têm nada.” É desta forma que o Padre Júlio, titular da Paróquia São Miguel Arcanjo há mais de 38 anos, compreende o povo de rua. Seu pequeno livro Tinha uma pedra no meio do caminho expõe a luta diária de um padre que vive em pleno acordo com a regra de ouro de Jesus: ajude quem precisa, esteja sempre ao lado dos pobres.

A abnegação de Padre Júlio é também sua força: sabe que não luta para ganhar, mas para ser fiel e coerente até o fim para com aqueles que dele precisam. Um pároco de postura firme e séria que pratica ativamente o evangelho. Sorte de São Paulo, sorte dos pobres, sorte de todos nós. Vida longa ao padre.

 

Motivos para ler:

1-O Padre Júlio Lancellotti foi designado Vigário Episcopal para o Povo de Rua pelo enorme Dom Paulo Evaristo Arns, hoje sepultado na cripta da Catedral da Sé. Levando seu título a sério, Padre Júlio convive todos os dias com os pobres. Passa por dificuldades inimagináveis e não esmorece. Um exemplo de devoção a uma nobre causa;

2- A filantropia pura e desinteressada sempre foi criticada por um neoliberalismo que vê os pobres como descartáveis. Basta lembrar que Madre Teresa de Calcutá e Irmã Dulce, duas mulheres admiráveis, foram repreendidas. O vereador Rubinho Nunes, em ano eleitoral, busca instalar uma CPI para “investigar” a Cracolândia. Pôs-se a difamar o Padre Júlio, chegando a chamá-lo de cafetão. É aviltante imaginar o Padre Júlio tendo que interromper seu trabalho diário para dar atenção a essa indecência intentada por ignóbeis políticos que perseguem cristãos por fins político-partidários. A baixeza inescrupulosa de alguns não tem limites;

3- Em fevereiro de 2021, o Padre Júlio empunhou uma marreta para arrancar pedras plantadas embaixo de um viaduto. Essas pedras impediam que a população de rua ali se abrigasse. Seu ato de resistência se transformou em lei: a Lei Padre Júlio Lancellotti (14.489/2022) proíbe o uso de arquitetura urbana hostil ao livre trânsito de pessoas nos espaços de uso público. O padre segue cumprindo sua missão de vida. Até o fim.