Saúde

Subestimação dos riscos impulsiona avanço da Aids

02/12/2022
Subestimação dos riscos impulsiona avanço da Aids | Jornal da Orla

O risco que a Aids representa está sendo subestimado por uma parcela importante da população e também pelo próprio Ministério da Saúde. Um dos maiores especialistas em Doenças Sexualmente Transmissíveis do país, o infectologista Marcos Caseiro alerta para o aumento do número de casos da doença, principalmente entre jovens e homens que fazem sexo com homens.

No Brasil, 52,9% dos portadores do HIV têm entre 20 e 34 anos. E o número de casos entre jovens entre 20 e 24 anos aumentou em 20%, entre 2007 e 2021. Caseiro chama a atenção também para estudos que indicam que de 11% a 13% dos homens que fazem sexo com homens estão infectados com o vírus. A situação é ainda pior entre a população trans. “Existe um estudo sentinela no Rio de Janeiro que mostra que 70% dos travestis estão infectados pelo HIV”, destaca.

Caseiro avalia que esta situação preocupante é resultado do desprezo ao risco. “Estes jovens não viram a tragédia que foi a Aids anos atrás, que matou milhares de pessoas, entre elas pessoas famosas como Cazuza, Renato Russo e Freddy Mercury”, explica. Ele acrescenta que o crescimento no número de infectados evidencia que as pessoas estão fazendo sexo sem proteção, ou seja, sem o uso de preservativo.

Além do comportamento individual destas pessoas que se expõem ao risco, Caseiro aponta também a falta de políticas públicas do Ministério da Saúde. “Temos um governo que não acredita, nega esta pauta, então ficamos sem uma política pública. A gente precisa repensar isso de uma maneira muito clara. Esse assunto da sexualidade deve ser debatido no campo da biologia. Isso chama-se educação em saúde, tem que fazer patte dos curriculos escolares. As implicações do ato sexual. Se bloqueia essa discussão nas escolas, onde ela vai ocorrer?”, afirma.

Marcos Caseiro pondera que a melhoria nos medicamentos acabou provocando uma certa invisibilidade da doença. Décadas atrás, quando surgiram os primeiros remédios, o paciente precisava tomar mais de 20 comprimidos por dia, com reações adversas terríveis, enquanto hoje o tratamento prevê a ingestão de apenas um.

O infectologista destaca a importância da realização dos testes, para diagnosticar a doença o quanto antes: além de aumentar a possiblidade de sucesso do tratamento, impede que o infectado contamine outras pessoas. “Uma pessoa infectada fica em média sete anos sem demonstrar sintomas. Quando isso acontece, a doença já está em estado avançado. Estima-se que no Brasil 200 mil sejam portadores do vírus mas não sabem”.