A voz da consciência

Seu Abel pede para sair

30/08/2024
Seu Abel pede para sair | Jornal da Orla

Para mim, é confortável falar sobre você, seu Abel, porque quando se falava no técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, para substituir o técnico Tite após a Copa do Mundo de 2022 , eu defendia seu nome por o seu trabalho demonstrar ser um trabalho equilibrado tanto defensivamente quanto na parte ofensiva. E tinha um outro fator: você já está trabalhando no Brasil há muito tempo.

Ter um técnico estrangeiro, eu defendia seu nome. Então, para mim, eu vou novamente dizer, é confortável falar de você. Eu eu vou um pouco mais além depois desse fato que você protagonizou, comigo sua credibilidade inclusive na condição de técnico de futebol, foi embora .

Porém, vou te dizer uma coisa: quando você vai tomar coletivo com você e qualquer outro treinador em atividade, tá bom? Ou qualquer tipo de esporte com apelo popular, como o futebol – talvez seja o futebol o maior apelo popular, com certeza, para falar a verdade. Se não fosse o futebol brasileiro, você não seria ninguém, Abel. Se não fosse o Palmeiras, você ficaria no Parque da Grécia até hoje, não seria conhecido em lugar nenhum, tá certo? Já que é para ser arrogante, eu também sei ser. Presta atenção: a competência que você tem não te dá o direito de destratar ninguém. Mas deixa eu perguntar um negócio: todo ser humano, para nascer, nós viemos de onde? De uma mulher, certo?

Você é o Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, da sociedade esportiva Palmeiras, melhor dizendo. O senhor explodiu chegando ao Palmeiras e marcando a sua história nesse clube por um fator muito simples: não sei quem foi que te trouxe, se foi o ex-diretor de futebol Alexandre Matos ou não? Por volta de 2020, mas você chegou ao Palmeiras por uma simples razão: uma oportunidade de mercado. Foi assim que o Palmeiras se encontrou. Então, você deve tudo o que você é ao futebol brasileiro.

Sabe o que acontece? É que você, seu Abel, está acostumado com um tipo de tratamento a você e ao seu trabalho, um tratamento, digamos assim, cheio de elogios, puxação de saco. Vamos falar de forma rasgada, do jeito que você merece. Está na hora de ir embora. Você está quatro anos aqui, né? O trabalho de um treinador, dizem que tem prazo de validade. Não sei se é verdade.

Eu ouvi São Paulo e Vitória pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro, Série A, e sábado à noite ouvi boa parte de
Palmeiras e Cuiabá, jogo que vocês ganharam por 5 a 0. Não sei até que nível as eliminações das copas que você e o
Palmeiras sofreram nas duas últimas semanas, na Copa do Brasil para o Flamengo em casa e na Libertadores também em casa para o Botafogo, e o seu desequilíbrio emocional? Que não há justificativa para a sua atitude sábado à noite. Para  mim, é complicado classificar a sua atitude como misoginia, porque são termos novos que, a cada hora, é criado um novo para classificar determinada atitude. Então, fica difícil classificar, mas pode ser que tenha sido. Não sei? Até peço desculpa pela ignorância, mas vou dizer uma coisa que eu vejo e que eu entendo como perigoso: a presença de técnicos estrangeiros trabalhando no Brasil. E aqui não vai nem um tipo de preconceito ou discriminação por você ser estrangeiro. Até porque eu gosto e admiro seu país, gosto da cultura, que muita gente menospreza, mas vamos lá. Entendo que existe um perigo de um tamanho considerável, por que não dizer, é grande, de que as suas atitudes nesse momento, vivendo no futebol brasileiro, por consequência, vivendo no Brasil, sejam atitudes de superioridade, não por ser europeu, mas sim por você ser português. E assim, entender que você está fazendo um favor por estar trabalhando no futebol brasileiro, ter uma atitude de colonizador. Eu percebo que você talvez entenda o Brasil não como um país independente, mas sim como uma colônia de Portugal.

Na minha opinião, o que aconteceu sábado à noite na coletiva pós-jogo entre Palmeiras e Cuiabá pela 24ª rodada do
Campeonato Brasileiro em Campinas, no Brinco de Ouro da Princesa, se tratou de uma atitude como se você, o treinador português, fosse um senhor de engenho no tempo do descobrimento do Brasil. O que é muito pior porque se trata do país inteiro e não do gênero feminino, apesar de muita gente entender assim, e eu respeito a posição.

O que eu vou falar aqui serve tanto para o Abel quanto para qualquer outro técnico. Você dá um exemplo: seu Renato Portaluppi, técnico do Grêmio de futebol de Porto Alegre. O repórter ou qualquer profissional que esteja ali na coletiva de imprensa é apenas a ligação entre o torcedor e as pessoas. Precisam aprender a fazer essa diferença e ouvir outras opiniões.

Eu gostaria de dizer que sim, Abel foi machista, eu reconheço, ouvindo outras opiniões, mas também demonstra um certo desprezo pelos brasileiros, como se estivesse fazendo um favor ao estar no Palmeiras. Ele se coloca como superior e esquece que está aqui por uma oportunidade de mercado e que, se não fosse o Palmeiras…

Eu gostaria muito de que a presidente do Palmeiras, dona Leila Pereira, se manifestasse, já que você diz que deve
satisfações a ela. Uma vez, no começo do ano, ela toma uma atitude de fazer uma entrevista coletiva só com mulheres, atitude considerada digna de aplauso, né? Falou na condição de chefe de delegação, não me lembro se em amistoso ou em competição oficial, mas na condição de chefe de delegação da seleção brasileira de futebol, ela falou sobre os casos de violência sexual, tanto do Robinho quanto do Daniel Alves, cometidos na Europa, uma na Espanha e outra na Itália. Eu espero que ela agora venha se manifestar sobre a sua atitude, já que você disse que você deve satisfação à sua mulher e à sua mãe. Qual vai ser o tipo de explicação que você vai dar a elas, caso você seja questionado por essa atitude? O que foi machista, assim, num grau que eu não sei classificar, mas eu tenho certeza de algumas coisas. Bom lembrar: violência sexual e cadeia, no caso dos jogadores. Mas eu tenho certeza de algumas coisas que eu vou falar aqui agora. A sua atitude arrogante, agressiva, espanta muito mais você do que o trabalho dessa moça, a Aline Fornelli, repórter da Band News FM, rádio essa que eu ouço e trabalho que eu respeito. Não sei até quando vai a vigência do seu contrato. Até o final de 2025, ou seja, o ano que vem? A informação que eu tenho, né, por parte da mídia tradicional, é de que vocês têm como grande objetivo o Mundial de Clubes de 2025, né?

E falando em respeito, se eu fosse diretor executivo de rádio ou TV, eu criaria uma rádio hoje exclusivamente falando de esporte e teria como base a valorização da mulher como profissional. Teria uma equipe e, se houvesse um episódio como esse com a repórter da Band News, eu falaria a questão de perder audiência, mas tomaria a posição e não transmitiria os jogos dos clubes onde não respeitam os profissionais que trabalham para mim. O que eu vou dizer aqui serve por exemplo para o técnico Renato Portaluppi. Quando você vai para uma entrevista coletiva, você não fala com os repórteres de rádio ou televisão, você fala com a torcida, porque simplesmente eles são a ligação entre eles, entre você treinador e a torcida, que é a sua e a ela você deve satisfação sim. Não interessa se quem tá do outro lado entende ou não de futebol. E gostaria de dizer mais: a imprensa brasileira não sabe a força que tem.

Apesar de muita gente entender que esse episódio se trata de um simples machismo que tem que ser combatido, eu não consigo classificar como o machismo por um simples motivo: eu acredito que a gente se completa. Porém, eu entendo quem interpreta esse episódio como um episódio machista, porque eu acredito na igualdade, independente de gênero. Eu acredito que a gente se completa, tanto os homens quanto as mulheres, mas é necessário sim se preservar o respeito. Se a gente aplicar nessa discussão o machismo, a gente tem que discutir também o feminismo, que faz questão de dividir e nos tratar como adversários mortais.

Para falar a verdade, a pergunta se justifica sim, porque não é a primeira vez que o jogador, objeto da questão, o lateraldireito Mike, sai machucado de uma partida. Eu não sou palmeirense e perguntaria a mesma coisa: “Será que eu seria maltratado também?”. Um outro fator que é necessário colocar aqui: se a resposta não é direcionada à repórter, qual é o seu papel enquanto entrevistado? Pedir licença para falar o que quiser? Você não pediu licença para responder do jeito que respondeu. Simplesmente se aproveitou da pergunta para mostrar a sua verdadeira face. Vou voltar a dizer uma coisa aqui: todo treinador, dizem que tem prazo de validade. Você, senhor Abel Ferreira, está arrumando pequenos atritos com árbitro, com a imprensa. Fazer o quê? Fazer o seguinte: está arrumando justificativa para você pegar o seu boné e sair fora. É isso que está acontecendo e colocar a responsabilidade da sua saída no futebol brasileiro, na imprensa, na torcida etc. Deixa eu fazer uma pergunta, seu nome não é especulado dos três principais clubes do seu país Benfica Porto e Sporting por qual motivo, a cada hora que eles querem trocar de técnico ou mesmo para ser técnico da seleção portuguesa quando foram atrás do Roberto Martinez técnico espanhol? Dá licença eu vou falar um negócio para você, eu sabia que feministas vão dizer assim, iam sair em defesa da dona Leila Pereira, só que tem dois detalhes nesse fato, são eles ela não é uma mulher comum ela representa uma instituição chamada sociedade esportiva Palmeiras, outra coisa ela no começo do ano na abertura da temporada, ela deu uma coletiva só para jornalistas mulheres, esse fato é simbólico e já que ela fez isso eu gostaria que ela viesse a público sim mas ela preferiu o silêncio eu tô satisfeito porque também é uma resposta.

Agora para concluir, vou dizer o seguinte: “A imprensa esportiva, no caso específico, poderia fazer o seguinte com
determinadas pessoas que consideram mal educadas, digamos assim, jogo desse time aqui que o treinador não me
respeita enquanto veículos de comunicação aos meus profissionais que trabalham para mim. Negócio é o seguinte: se eu fosse diretor executivo de rádio ou TV, eu queria uma rádio exclusivamente esportiva e faria uma equipe feminina. E eu faria questão de perder a audiência, mas eu vou firmar a posição quando o fato como esse acontecer. Tem um detalhe importante que é o seguinte: valorização profissional da mulher e do homem de qualquer gênero ou condição física, porque acredita na capacidade daquela profissional, não simplesmente para ser politicamente correta, não é hipocrisia. Aliás, deixa eu te falar uma coisa? Só vai falar desse fato aquela pessoa que teve na sua infância ou adolescência, ou seja, 90%, 95%, 98% do tempo criado ou criada pela mãe, o que hoje em dia se chama de mãe solo, né? Só vai falar a verdade de coração esse tipo de pessoa que foi criada pela mãe. O resto só vai querer surfar na onda da polêmica!”

O que eu estou dizendo aqui na coluna dessa semana eu faria por qualquer pessoa que eu considerasse que foi
injustiçada, não é por causa que ela exerce uma profissão que eu admiro. Agora, apenas mais dois comentários sobre esse assunto para concluir, porque fala-se aí demais. Se a presidente do Palmeiras, dona Leila Pereira, replicou o que o seu treinador, Abel Ferreira, disse na nota oficial que ele escreveu, ou a assessoria, não sei quem foi também, não me interessa, a posição da sociedade esportiva Palmeiras já está colocada. Não vai ficar dito pelo não dito o por ele e vai ficar por isso mesmo. Infelizmente, o público feminino, como sempre, ele vai ser usado por 15 minutos, nada mais, para colocar na rede social coisa do tipo “#somostodasAline”, discurso da turminha do amor que só fica no discurso. Depois, o tempo vai passar e fica tudo dito pelo não dito, como sempre. Agora é sério, para terminar: Abel Ferreira, pede para sair.

 

 

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