A restrição ao uso por estudantes de celulares nas escolas públicas e privadas de educação básica durante as aulas, recreios e intervalos e atividades extracurriculares passou a valer em janeiro. A medida visa proteger a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes. A lei determina que as redes de ensino e as escolas terão que elaborar estratégias para tratar do tema do sofrimento psíquico e da saúde mental dos estudantes da educação básica, incluindo o causado pelo uso indevido de aparelhos celulares e pelo acesso a conteúdos impróprios. Na Baixada Santista, o momento ainda é de adaptação, mas algumas iniciativas estão despertando interesses, até pouco tempo atrás impensáveis, com o avanço da tecnologia e dentro do mundo virtual.
Alguns professores têm se expressado nas redes sociais relatando a mudança de comportamento positiva dos alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio. Brincadeiras consideradas anteriormente “bobas ou inocentes” passaram a fazer parte do dia dos estudantes. Jogar “Stop”; baralho, pebolim; pingue-pongue, queimada, bambolê ou levar para as classes gravador portátil ou máquina de fotografar são situações que passaram a ser recorrentes.
Números de 2024 apontam que o Brasil ficou em segundo lugar em média de tempo de acesso à internet no mundo, só perdendo para a África do Sul. Em média, o brasileiro acessa 9h13 minutos por dia. Uma pesquisa da TIC Kids Brasil – 2024 mostrou que 93% da população de 9 a 17 anos usa internet regularmente, e 98% acessa pelo celular.
A Reportagem procurou alguns professores e diretores de escolas para saber como está sendo esse novo momento com os alunos:
“Percebo que os estudantes estão mais atentos e participativos. Antes, o celular era um grande fator de distração. Agora, vejo um foco maior nas atividades propostas e mais envolvimento em sala de aula. Além do desempenho acadêmico, a restrição do celular tem contribuído também para a interação social entre os alunos. Nos intervalos, eles se tornaram mais próximos uns dos outros. Os mais novos começaram a trazer jogos como baralho e dominó, enquanto os mais velhos aproveitam para conversar e jogar bola”
Suely Maria Leutes da Silva, professora de Língua Portuguesa, Escola Municipal Silvia Regina Schiavon Marasca, em Itanhaém.
“Uma melhora muito grande, sem dúvida nenhuma. Parecia que ia ser difícil, um desafio e tanto, implantar a restrição ao celular, mas tem surtido um efeito, porque aquela desatenção toda que era provocada pelas redes sociais, ela foi eliminada. E a gente observa no intervalo, eles estão fazendo outras atividades, jogando botão, jogando cartas, enfim, fazendo jogos de tabuleiro, então está bem interessante, e na sala de aula aumentou muito mais o interesse, você tem uma possibilidade de concentração maior do aluno para participar da aula”.
Paulo Maimone, professor de História do Colégio Objetivo
“Os alunos estão extremamente mais atentos às aulas, a própria dinâmica dentro da sala de aula, ela mudou, porque na realidade você consegue uma concentração maior dos alunos. É muito positiva essa mudança, concordo também que na hora do intervalo eles estão se integrando mais, interagindo mais entre eles. Então, para nós professores, ficamos muito contentes com essas mudanças e com essa postura também deles. Muito positiva. A gente também consegue desligar um pouquinho dessa loucura que são as redes sociais e essas informações. Ficou ótimo”.
Marcelo Freitas, professor de História do Objetivo
“A proibição do uso do celular chegou para os alunos e para toda a comunidade antes do início das aulas. Então, gerou uma ansiedade, como ia ser, o que ia fazer, que punição se teria caso o aluno usasse o celular, como os pais iam lidar, como os pais iriam se comunicar. Então, com tudo isso ficaram perguntas sem respostas. A escola teve que se preparar para saber como fazer esse comunicado de uma forma leve, de uma forma tranquila, que todos iriam sobreviver sem o celular, mas que teriam acesso à tecnologia e acesso à comunicação com os pais e os pais com eles. Então, os professores também se prepararam e colocaram para os alunos que seria o período que eles ficariam sem celular, mas teriam outras oportunidades de usar esse tempo para conhecer os amigos.E isso foi perceptível pelos professores, porque nem eles têm a noção, os alunos, de o quanto eles estavam se desenvolvendo pelo fato de estar conversando, de estar jogando, de estar pensando como as estratégias do jogo para poder vencer. Então, eles estão desenvolvendo ‘N’ capacidades e habilidades que iam auxiliar no aprender em sala de aula.
Marina Dolores Alvarez- diretora pedagógica do Colégio Objetivo
“Aqui sempre tivemos uma organização em que o uso do celular era restrito, a maioria dos alunos respeitava, mas havia sempre uma necessidade de convencimento e orientações para as famílias e para os alunos. Agora com a Lei Estadual e Federal estamos mais respaldados e as crianças aceitaram bem essa nova regra, não tivemos nenhum caso de desrespeito. Durante o intervalo, percebemos nitidamente mais interação entre as crianças, mais participação nos jogos de tabuleiro e filas para brincar de tênis e mesa. É muito perceptível também a diminuição de conflitos e de cyberbullying, casos de insultos em grupos de whatsapp e redes sociais que nesse ano não aconteceram”.
Juliana Devecchi, diretora da EE Maria Celeste Pereira Leite, em Bertioga
“Crianças do 6º ao 9º ano estão tendo o mundo em suas mãos através da leitura, livros impressos, folheados página por página, cálculos sem a calculadora digital, resgatamos as brincadeiras de crianças como amarelinha, uno, tabuleiros, crianças brincando no intervalo de pega-pega, esconde-esconde, estamos resgatando a infância, estamos deixando um legado: O resgate da memória na Infância. Manuseio na terra e esperar a colheita. Isso nos motiva e nos mostra que estamos no caminho certo”.
Joselaine Pedro da Cal Neves, professora da EE Maria Celeste Pereira Leite, em Bertioga
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