Livros e mais livros

Requiem, uma alucinação

17/05/2023
Requiem, uma alucinação | Jornal da Orla

Um dia alucinante em Lisboa 

Requiem, uma alucinação é um livro cujas páginas se passam num quente domingo de Lisboa. Neste dia, perdido no tempo e espaço, um melancólico italiano (alter ego do escritor) perambulará pelas abrasivas ruas da capital portuguesa e estabelecerá impagáveis contatos com personagens ora vivos, ora mortos. Um domingo em que tudo foi inventado, mas quase tudo aconteceu.

Lisboa, que também se apresenta ela própria como personagem, está inteira neste pequeno livro: os cafés, a mítica praça do Terreiro do Paço, os costumes, o famoso Cemitério dos Prazeres. Será junto deste cenário construído de forma escrupulosamente real que o fantástico (a “alucinação” do subtítulo) aparecerá: uma realidade paralela e onírica que promoverá encontros efêmeros cheios de empatia e sentimento entre improváveis interlocutores.

Não se explica este Requiem. Convém vivê-lo. Ou sonhá-lo.

Motivos para ler:

1- Antonio Tabucchi (1943-2012) é considerado, com justeza, um dos grandes escritores contemporâneos. Multipremiado, tem no famosíssimo livro Afirma Pereira seu maior sucesso. Entretanto, ainda preferimos seu alucinante e divertido Requiem;

2- O autor confessa: seu Requiem, escrito em português, é uma homenagem à sua pátria adotiva. Viveu em Portugal por bom tempo, estudou sua literatura, casou-se com uma portuguesa, traduziu Fernando Pessoa para o italiano e morreu em Lisboa. São muitas as histórias e encontros que compõem este livro, mas todas ligadas pelo amor “a uma gente que gostou de mim e de quem eu também gostei”;

3- O leitor atento perceberá: é com o próprio Fernando Pessoa que o italiano janta ao final, e é o poeta também a primeira personagem do livro. A referência não é à toa: se Pessoa escreveu seu Livro do Desassossego, o Requiem de Tabucchi vive esse desassossego a cada esquina lisboeta, a cada encontro com cada personagem. O jantar final, portanto, seria quase natural, não fosse fantasmagórico.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.