Na semana passada, ouvi o jornalista Cláudio Humberto, na Rádio Bandeirantes, cobrando do ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula a postura de “algodão entre cristais”. A crítica a Paulo Pimenta, agora ministro extraordinário da Reconstrução do Rio Grande do Sul, era motivada pela exposição pública das divergências entre ele e o governador gaúcho, Eduardo Leite. O governador defende a ideia de um Plano Marshall para a reconstrução do estado, semelhante ao adotado para a reconstrução da Europa depois da II Guerra, e Pimenta, um plano RS, de Recuperação Sustentável.
Achei divertido. Como assim, Cláudio Humberto? Você não criou o estilo “Bateu, Levou”, quando era o porta-voz do desastroso Governo Collor? Respostas agressivas e frequentemente com ofensas pessoais aos críticos? Agora se dá o direito de cobrar da Comunicação do governo Lula a postura de “algodão entre cristais”?
Aliás, os comentários desse jornalista têm um detalhe que é divertido acompanhar. Até a metade de 2022, se ele comentasse qualquer coisa, por exemplo a morte do baterista dos Rolling Stones, Charlie Watts, ele dava um jeito de criticar o então governador de SP, João Dória. Agora, seja qual for o assunto, por exemplo, a campanha do Botafogo na Libertadores, ele dá um jeito de desancar o governo Lula.
Não é só o jornalista Cláudio Humberto que segue à risca o lema cínico de “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
O cantor Leonardo definiu como suruba o show da cantora Madonna no Rio de Janeiro. “Aquilo não é show, aquilo é suruba”. “Tem satanismo ali, coisa do diabo. Sou religioso, não gosto”.
Quem fala o que quer, ouve o que não quer. E Leonardo ouviu nas redes sociais que no show dele as dançarinas se apresentavam de maneira sensual, aparentemente sem calcinha.
Em 2022, o cantor já tinha declarado apoio a Bolsonaro falando em “religião e família”. Lembro de ter ouvido de um jovem: “Como assim, Leonardo? Seis filhos com seis mulheres diferentes? Que religião é essa? Que família é essa?”
E o presidente da Argentina, então? Neste final de semana, provocou uma crise diplomática com a Espanha ao insinuar claramente num evento do partido espanhol Vox, que a esposa Begoña Gómez do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, é “corrupta”.
Como assim, Milei? Em fevereiro, não era você, num encontro conservador nos Estados Unidos, que se comportava como tiete do ex-presidente Donald Trump? Se Begoña Gómez para você é corrupta, o que dizer de Trump? Ele está sendo julgado pelo pagamento de US$ 130 mil para a ex-atriz pornô Stormy Daniels para que ela permanecesse calada durante a campanha eleitoral de 2016 sobre uma relação sexual extra-conjugal que teria tido com ele. E esse dinheiro foi declarado como honorários do advogado dele na época, Michael Cohen, que agora, em depoimento no julgamento contou essa história.
A mulher do primeiro ministro, de esquerda, do Partido Socialista Operário Espanhol, para Milei, é ”corrupta”. E Trump, conservador de direita como ele, é santo?
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