Crônica

Quem foi o Cardeal Arcoverde?

04/01/2025
Quem foi o Cardeal Arcoverde? | Jornal da Orla

No comecinho do filme Tróia, de 2004, um diálogo já hipnotiza a quem assiste.
A mãe do guerreiro Aquiles, a deusa Tétis, representada pela atriz Julie Christie, diz a ele:
“Fique e você terá uma linda esposa, uma vida longa e feliz, mas os seus bisnetos não mais saberão quem você foi. Vá e você morrerá, mas o seu nome irá ecoar pela eternidade.”
Aquiles optou pela glória. Morreu, como a mãe previu. Mas depois de muitas lutas heróicas que realmente eternizaram o nome dele por milênios, até hoje.
Atletas de ponta renunciam às festas e à vida social na época da vida em que elas mais atraem: o final da adolescência e a década dos vinte anos.
Executivas de multinacionais renunciam à maternidade para poder privilegiar a carreira e se manter na ponta do mercado.
Escolhas trazem perdas inevitavelmente embutidas nelas. Não há conquista sem sacrifícios.
Será que neste século 21 esse tipo de renúncia ainda compensa, ainda vale a pena?
Heróis, filósofos, cientistas e estadistas da Antiguidade, da Idade Média e até dos últimos séculos tiveram nomes eternizados: Alexandre, o Grande, Sócrates, Luís 14, Napoleão… Artistas e escritores também: Leonardo da Vinci, Shakespeare, Alexandre Dumas…
Hoje esse tipo de celebridade engalana atletas, atores, cantores e bilionários. Políticos, não. Dividem opiniões. São incensados mas também execrados.
Mas será que essa aura e esse prestígio chegam à geração dos bisnetos deles?
O título dessa crônica apresenta uma pergunta:
“Você sabe quem foi o Cardeal Arcoverde?” Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti nasceu num povoado chamado Olho D’Água, em Pernambuco, em 1850. Hoje Olho D’Água se tornou cidade e em 1943 passou a se chamar Arcoverde em homenagem a ele, que morreu em 1930, aos 80 anos.
Quem já morou em São Paulo certamente conhece a rua Cardeal Arcoverde, uma das vias mais importantes do bairro de Pinheiros. Em Santos o Cardeal não tem tanta notoriedade: batiza uma rua que corta a avenida Afonso Pena perto do Canal 5.
Mas será que alguém em Santos, em São Paulo ou até na cidade de Arcoverde sabe quem foi o cardeal?
É quase certo que não. Entretanto ele carrega a glória de ter sido o primeiro religioso católico da América Latina a alcançar o cardinalato.
Renunciou à constituição de uma família quando optou pela carreira eclesiástica. Não teve filhos, nem netos. Mas será que os sobrinhos-bisnetos sabem quem ele foi? Você, leitora / leitor, só ficou sabendo porque o cronista fez uma pesquisa na Wikipedia. Mas ele renunciou a uma vida simples e feliz, no convívio da comunidade de uma paróquia pra virar nome de rua e de cidade.
Será que vale a pena?