Cena

Projeto TAMTAM celebra 35 anos com Sarau literário

10/05/2025 Isabela Marangoni
Divulgação/Projeto TAMTAM

De 16 a 18 de maio, Santos será palco do Sarau TAMTAM – Outras Palavras, uma grande celebração literária inclusiva que marca os 35 anos do Projeto TAMTAM, referência nacional na promoção da cultura como ferramenta de inclusão e saúde mental. Durante três dias, o Café Teatro Rolidei, no Centro de Cultura Patrícia Galvão, abrirá suas portas para uma programação gratuita com oficinas, palestras, contação de histórias e performances que celebram a diversidade.

“A gente se conhece pela linguagem. A linguagem é a sua gíria, a sua fala, os seus costumes. Quando você se apresenta, eu estou lendo você o tempo todo”, explica Renato Di Renzo, diretor geral do projeto, ao resumir a filosofia que move o trabalho da ONG. Para ele, promover um sarau é mais do que reunir poetas: é criar espaço onde pessoas com e sem deficiência possam “acontecer na sociedade”, de forma visível, criativa e cidadã. “Isso é pertencer. Isso é acesso. Não é caridade, é direito”, afirma.

O sarau integra a programação da Semana da Luta Antimanicomial e reforça a luta contra estigmas, preconceitos e exclusões que ainda marcam pessoas com deficiência e transtornos mentais. “O objetivo não é ser o substituto da medicina. Mas é enxergar a loucura pelo lado bom da coisa. Ser diferente é o direito de pensar loucamente”, provoca Renato, citando Nietzsche “A grande saúde é a grande loucura”.

UMA ARTE QUE É TRABALHO

Além de abrir espaço para a arte, o evento conta com financiamento do Governo Federal, em parceria com o Ministério da Cultura. A verba permitiu que o sarau fosse planejado e executado com alta qualidade, incluindo a contratação de dez pessoas — sete delas com deficiência — que recebem formação e cachês desde fevereiro – uma prática que o projeto quer consolidar e expandir. “Trabalhar num teatro, numa revista, num evento cultural também é trabalho. Isso é muito importante”, destaca o diretor. “A gente não quer passar o tempo. Queremos formar artistas, técnicos, iluminadores, contadores de histórias. Isso é cidadania, isso é acesso”, diz.

Esses profissionais participam desde a escolha dos temas até a produção das oficinas e a recepção do público. “Eles é que vão receber as pessoas, vão estar aqui falando, provocando, contando histórias. A ideia é que comecem um trabalho profissional, de verdade”, ressalta Renato.

A filosofia do projeto vai além da inclusão simbólica: trata-se de promover o pertencimento real e profissionalização artística. Para a vereadora Claudia Alonso, que atua na ONG há mais de 30 anos, a arte é ferramenta de transformação estética, política e ética, que afeta e educa de forma profunda. “Nossa meta é combater a prática comum do ‘faz de conta’ inclusivo, que limita pessoas com deficiência a funções simbólicas e isoladas. Aqui, o foco está em formar artistas e técnicos preparados para atuar no mercado cultural — de iluminadores a assistentes de palco e cenotécnicos”, diz.

TRÊS DIAS DE ATIVIDADE

A programação começa na sexta-feira (16), às 15 horas, com oficinas literárias inclusivas e a palestra do ator e contador de histórias Alexandre Camilo, premiado pelo trabalho de incentivo à leitura e idealizador da Ação do Coração. No sábado (17), quem assume é a contadora Camila Genaro, referência nacional em tradição oral e autora de sete livros infanto-juvenis. No domingo (18), a escritora Regina Alonso, com mais de 50 prêmios e membro da Academia Santista de Letras, encerra o ciclo com sua visão poética sobre a velhice e a palavra.

Ao longo dos três dias, o público poderá participar de oficinas que integram literatura com sensações táteis, sons e imagens, num convite à ecologia mental e integral — temas que nortearam a construção do evento. “A gente discutiu o que seria a terra, o que seria a luta. Porque você já nasce com uma luta. Trabalhar tudo isso foi difícil, mas conseguimos chegar lá”, conta Renato.

LITERATURA SEM BARREIRAS

Com entrada gratuita e classificação livre, o Sarau TAMTAM – Outras Palavras quer romper não só com o capacitismo, mas com a própria ideia de literatura elitizada. “A gente quer pensar sobre uma sociedade onde as pessoas possam andar livremente sem tomar um tapa na cabeça, sem tomar um riso na cara, um deboche. Uma sociedade onde todos aconteçam”, diz Cláudia.

Um dos grandes objetivos do evento é aumentar o acesso e estimular o conteto da população com a leitura. Sobretudo, em relação a eliminação de estigmas referentes ao capacitismo, atribuído a pessoas com deficiência e transtornos mentais.