Unir experiências de vida a novos conhecimentos e ainda possibilitar que pessoas com mais idade sejam anfitriãs de vários equipamentos públicos e espaços de visitação de Santos, valorizando o saber da pessoa idosa e dando novas perspectivas para aqueles que já passaram dos 60 anos. Esse é o mote do Programa Tecnologia Social Vovô Sabe Tudo, que nesta quarta-feira (6) completa 25 anos.
Desenvolvida pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), a iniciativa conta hoje com 36 vovôs, que, depois de capacitados, estão distribuídos em diversas secretarias, ONGs e centros comunitários. É possível encontrá-los, por exemplo, na Basílica Menor de Santo Antônio do Embaré, na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário (Catedral), no Santuário de Nossa Senhora do Monte Serrat, no Santuário de Santo Antônio do Valongo, no Museu Pelé, no Orquidário, Jardim Botânico ou no Aquário. Eles também realizam o trabalho de contação de histórias nas escolas municipais, dão cursos de artesanato em centros de convivência e centros comunitários, além de fazerem um trabalho voltado à reciclagem na Ecofábrica.
“Eles também estão nas ruas, fazendo um trabalho importante de distribuição de cartilhas que falam sobre o lixo reciclável. Por serem pessoas idosas, quando elas chegam com a cartilha, as pessoas têm menos resistência em pegar o material e parar para ouvir. É um programa que contempla de verdade a valorização da pessoa idosa”, afirma a responsável pelo Vovô sabe tudo, Adelaide Ferreira.
O integrante com mais idade desta turma é o vovô Jair Lana, 86 anos, que orienta os passageiros do bonde para o embarque e desembarque e ainda conta histórias da época em que esse meio de transporte não era apenas um passeio turístico.
GENTE QUE FAZ
A aposentada Ivone Baptista, 73, que sempre acalentou o sonho de viver em Santos, se considera realizada por aprender – e repassar a história da Cidade aos que visitam o Santuário de Santo Antônio do Valongo, onde orienta visitantes como integrante do programa. Além das curiosidades da igreja – que tem no altar-mor um dos poucos tronos rotativos do País e uma capela anexa com imagem de São Francisco, em estilo barroco e tamanho real, orando diante de um Cristo Místico de Seis Asas – ela conta que os visitantes sempre ficam curiosos pelo projeto. “Até esquecem um pouco da igreja e começam a fazer perguntas de como é e até como participar ou como levá-lo para suas cidades”, conta.
“O programa mudou tudo na minha vida. Temos reuniões mensais, passeios, monitoria e muita informação. Foi muito interessante porque eu comecei a conhecer verdadeiramente Santos e sua história”, destaca Ivone.
Gilberto Oliveira, 74 anos, atua como contador de história na Unidade de Educação Ambiental do Orquidário. “Tem coisa melhor que contar histórias para crianças num paraíso como este?”, comemora ele no meio do parque. O caminhoneiro aposentado, que dedicou parte da vida ao samba, desperta a atenção dos visitantes com muita poesia e instrumentos fabricados com restos de madeira e objetos recicláveis. Tudo para destacar a importância de se preservar a natureza.
“Gosto de falar sobre o Meio Ambiente para que eles se preparem para o futuro. E os instrumentos com materiais reciclados fazem parte do nosso show. Tudo o que ia para o lixo, eu mostro para eles que podemos transformar e dar uma utilidade”, ensina o vovô.
O PROGRAMA
O foco do Programa Vovô Sabe Tudo, iniciado em 1998, é o contato direto entre gerações e o reconhecimento e valorização do saber da pessoa idosa, que desenvolve suas habilidades e compartilha seus conhecimentos em equipamentos municipais. O programa é uma iniciativa da Seds em parceria com as pastas que recebem os serviços. Até hoje, o programa já atendeu aproximadamente 200 pessoas.
Os vovôs e vovós recebem um salário mínimo e desempenham 20 horas de trabalho semanais, sendo quatro horas dedicadas à capacitação permanente. Para participar do projeto, é preciso ter no mínimo 60 anos, residir em Santos, receber até cinco salários mínimos e ter as seguintes habilidades: comunicação (boa dicção, domínio da linguagem, capacidade de organização), contação de histórias, habilidades manuais, zeladoria e jardinagem. Cada grupo atua durante 18 meses no projeto e as inscrições para o processo seletivo para a próxima turma devem ser abertas no começo do ano.