Nos últimos meses, os consumidores brasileiros têm enfrentado um aumento significativo nos preços da carne, afetando tanto o bolso das famílias quanto o setor econômico do país. O fenômeno, que já vem sendo observado desde o ano passado, tem gerado uma série de debates sobre as causas dessa alta e os efeitos para o mercado interno.
Pelo terceiro mês consecutivo, o preço das carnes ficou em alta. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgou nesta terça-feira (10), aponta uma alta de 15,43% de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação da carne ficou em queda por um ano e meio, mas voltou a aumentar em setembro de 2024.
Entre os cortes bovinos, o patinho foi o que mais encareceu no acumulado dos 12 meses, com a inflação de 19,63%. Ele é seguido do acém (18,33%), do peito (17%) e do lagarto comum (16,91%). A única peça que ficou mais barata foi o fígado, com queda de 3,61%, aponta o índice.
Uma das principais razões apontadas para o aumento no preço da carne no Brasil é a alta demanda internacional, especialmente pela carne bovina, que tem sido exportada em grandes quantidades para países como China e países da União Europeia. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, as exportações brasileiras de carne bovina cresceram significativamente, com destaque para o aumento das compras pela China, que após a reabertura de seu mercado pós-pandemia, aumentou consideravelmente a importação de carnes brasileiras.
Além disso, o custo de produção no Brasil também tem sido uma preocupação crescente. O preço do milho e da soja, principais insumos para a alimentação do gado, subiu nos últimos meses, o que impactou diretamente os custos de produção da carne. A crise climática, com longos períodos de seca em algumas regiões produtoras, também contribuiu para o aumento dos preços, já que prejudicou a produção de alimentos para o gado.
O aumento dos custos de energia e transporte também tem pressionado o preço final da carne. A alta dos combustíveis, aliada ao aumento do custo de produção no campo, acaba refletindo diretamente no preço pago pelos consumidores.
Para muitas famílias, a carne deixou de ser um alimento acessível, obrigando a população a buscar alternativas mais baratas, como frango e peixe. Segundo uma pesquisa recente do IBGE, a inflação dos alimentos foi um dos principais motores do aumento da pobreza no Brasil, já que as famílias mais pobres têm uma grande parte de sua renda destinada à compra de alimentos. O aumento do preço da carne afetou especialmente as classes média e baixa, que, tradicionalmente, consomem uma maior quantidade desse tipo de proteína.
Com a carne se tornando um produto cada vez mais caro, o Brasil também enfrenta mudanças no padrão alimentar da população. Há um crescente consumo de proteínas alternativas, como leguminosas e proteínas vegetais, que se tornam opções mais acessíveis. Organizações de defesa dos direitos dos animais e ambientalistas também apontam o aumento de uma conscientização sobre os impactos do consumo excessivo de carne na saúde e no meio ambiente, o que pode contribuir para uma mudança nos hábitos alimentares no país.