No Brasil, ocorrem 32 suicídios por dia — média de uma morte a cada 45 minutos
Ainda considerado tabu para parcela significativa da população, o suicídio é um assunto que merece ser tratado com atenção e sensibilidade. Os números da Organização Mundial da Saúde (OMS) servem de alerta: no Brasil, ocorrem 32 suicídios por dia — uma média de uma morte a cada 45 minutos. No mundo, uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos. Nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas.
E mais: estudo da Unicamp revela que 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em dar um fim à própria vida e, destes, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso.
Os esforços para chamar a atenção para o tema se reforçam durante este mês, o Setembro Amarelo, mas o desafio de identificar pessoas que precisam de ajuda é realizado durante o ano inteiro, destaca o porta-voz do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Santos, Basílio Rocha. “O suicídio é extremamente democrático, afeta pessoas de todas classe sociais e idades”, argumenta. “É importante falar sobre o suicídio, sim, para que a pessoa se sinta importante, e não à margem da sociedade. É um problema que deve ser tratado com muita responsabilidade, através de equipes médicas, políticas governamentais, entidades do terceiro setor e da religião, para quem é religioso”, completa.
Sinais de que a pessoa está vulnerável ao suicídio
O porta-voz do CVV explica que a pessoa dá sinais de que está com problemas emocionais. Os principais são as mudanças de comportamento: ela fica mais introspectiva, evita o convívio social, perde produtividade no trabalho, deixa de fazer atividades antes prazerosas. Há frases que servem de alerta, que não devem ser menosprezadas, como “queria estar morto”.
FRASES DE ALERTA
“Não aguento mais”
“Queria estar morto”
“Ninguém vai sentir minha falta”
“Vocês vão ser mais felizes sem mim”
“Nada deu certo na minha vida”
“Sou um peso para vocês”
“Muitos sinais passam despercebidos. Pode não denotar o suicídio, mas a necessidade de ajuda. E esta falta de ajuda pode levar ao suicídio. É preciso estar atento a mudanças de comportamento, como por exemplo a pessoas que é extrovertida e começa a se fechar, começa a ter pensamentos negativos, a se isolar.
SINAIS DE ALERTA:
• Mudanças marcantes na personalidade ou nos hábitos
• Comportamento ansioso, agitado, ou deprimido
• Piora do desempenho na escola, no trabalho, em outras atividades que costumava manter
• Afastamento da família e de amigos
• Perda de interesse em atividades de que gostava
• Descuido com a aparência
• Perda ou ganho inusitados de peso
• Mudança no padrão usual de sono
• Comentários autodepreciativos persistentes
• Comentários negativos em relação ao futuro, desesperança
• Disforia marcante (combinação de tristeza, irritabilidade, acessos de raiva)
• Comentários sobre morte, sobre pessoas que morreram, interesse por essa temática
• Doação de pertences que valorizava
• Expressão clara ou velada de querer morrer ou de por fim à vida
Fonte: Psiquiatra Neury José Botega, professor-titular da Unicamp e diretor da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS).
Como lidar?
Basílio Rocha explica que qualquer pessoa, não necessariamente um profissional de saúde ou voluntário do CVV, pode abordar alguém que demonstra estar com problemas emocionais. “Leve a pessoa para um canto, onde ela não se sinta vigiada e pergunte com tranquilidade: eu sinto que você mudou, você está com algum problema. Eu não sei o tamanho da sua dor, mas se você quiser estou à sua disposição”, recomenda.
Segundo ele, é preciso ouvir a pessoa sem interromper. “Ela tem o direito de falar de seus sentimentos, não importa se ela está triste porque o pão com manteiga caiu no chão ou porque o filho morreu. Não existe régua para medir dor”.
O porta-voz alerta para as frases motivacionais, por melhor que sejam as intenções. “Como falar de Deus para um ateu, por exemplo? É muito melhor que você facilite para a pessoa falar do problema dela e que ela procure uma solução, do que você propor uma solução. É por isso que no CVV a gente acaba não dando pitaco, não damos conselhos”, argumenta. “É preciso entender a diferença entre o problema e o sentimento. Quando se foca no sentimento, você dá a liberdade para ela resolver o problema”.
O atendimento do CVV
Rocha explica que o trabalho do CVV não é terapia, os voluntários não fazem diagnóstico nem prescrevem tratamento. “É basicamente um trabalho de escuta. As pessoas ligam para falar de seu sentimento, um momento difícil que estão passando. E elas têm a garantia do anonimato, a liberdade de falar sem ser interrompida e a ligação se desenrola durante o tempo que for necessário. Tem ligações em que a pessoa não fala, ela só quer saber que tem um outro ser humano ali à disposição. A busca da pessoas é por serem ouvidas”, explica.
Voluntários do CVV
Criado em 1962, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma entidade filantrópica que atua com voluntários, que se revezam no atendimento de pessoas com problemas emocionais. Os atendimentos são feitos por telefone (188), no site cvv.org.br (por chat ou e-mail), ou mesmo presencialmente.
Desde 2018, o número foi centralizado, o que faz com que voluntários das mais variadas regiões do Brasil atendam as ligações. O CVV recebe uma ligação a cada 18 segundos.
Para ser voluntário, não é preciso ser profissional de saúde mental. Basta ter mais de 18 anos, fazer um curso de quatro meses, no qual se aprende a filosofia do CVV, as técnicas e os tipos de ligações. “Durante este curso, muitas pessoas percebem que o CVV não é para elas, e elas vão procurar outro tipo de trabalho voluntário. Depois destes quatro meses, ela faz um estágio monitorado e depois se efetiva, tendo dia e horário para o seu plantão”, explica Basílio Rocha.
Empresas ou pessoas físicas também podem colaborar com o CVV realizando doações. Todas as informações sobre como proceder estão no site cvv.org.br
LEIA TAMBÉM:
Suicídio: prevenção é a saída