Saúde

O tempo para medicação

30/07/2014
O tempo para medicação | Jornal da Orla
O papel do tempo na vida biológica tem sido muito estudado, principalmente a partir dos anos 1970. Muitas teorias têm se apresentado na tentativa de explicar como as funções orgânicas são influenciadas pela passagem do tempo. Apesar de as ideias ainda estarem em desenvolvimento, é bastante evidente que muitas funções orgânicas modificam-se com os ritmos da vida, sejam as alternâncias entre claro-escuro ou inverno-verão. Outros fenômenos se acertam ao seu modo ao relógio biológico, como o ciclo menstrual.
Doses menores
O entendimento da cronobiologia é importante para a melhoria do controle das doenças. Nesse sentido, tem se buscado estratégias para melhor se administrar os medicamentos, procurando-se aumentar os resultados com doses menores. E as pesquisas buscam as explicações e justificativas aplicáveis em nosso dia-a-dia. Uma das possíveis respostas está no mecanismo básico dos medicamentos que é a ação sobre os receptores.
Os receptores biológicos são como fechaduras específicas para cada medicamento, aqui fazendo o papel de chave. Assim, em várias células que contenham os receptores adequados (fechadura), os medicamentos poderão modificar (como chave) o funcionamento daquele órgão, assim, os medicamentos têm funções próprias, diferenciadas em cada órgão, podendo ter indicações diferentes.
Mais eficiência
O ciclo claro-escuro, do dia e da noite, induz o organismo a produzir hormônios específicos, os quais por sua vez modificam a quantidade de receptores nas células. E quanto mais receptores, mais eficiente será o efeito do medicamento possibilitando, talvez, a redução da dose e das reações adversas. Há diversos estudos desse tipo com os anestésicos e analgésicos. Substâncias da mesma classe terapêutica, por exemplo os analgésicos opioides como a morfina e outros, tem padrões circadianos, ou seja, comportamentos diferentes ao longo do dia podendo produzir maior ou menor analgesia dependendo do horário administrado. A mesma prática também está sendo usada para melhorar os resultados no tratamento do câncer.
Os laboratórios, por sua vez, estão pesquisando formulações para que os princípios ativos sejam liberados no melhor tempo para seu efeito mais positivo. Isso significa, por exemplo, que ao se tomar o medicamento a um determinado horário, o seu maior efeito ocorrerá em outro momento, quando será mais necessário ou mais eficaz. E uma patologia com a qual há grandes avanços é a epilepsia, criando-se, até, a especialidade de “cronoepilepsilogia”. Os estudos se referem tanto ao ciclo circadiano (como acontece ao longo do dia) quanto aos melhores horários para se administrar os medicamentos.